Em
sua curta carreira como cineasta, Sofia Coppola se especializou em retratar o
tédio e as consequências que o aprisionamento mental pode causar. Desde sua
estreia, em As Virgens Suicidas, de
1999, ela abraça uma proposta de realismo narrativo que casa muito bem com a
estética por vezes documental que dá a seus longas-metragens. Bling Ring, seu quinto filme, conta a
história de um grupo de jovens com o costume de invadir e assaltar mansões de
famosos e ídolos, como Lindsay Lohan e Paris Hilton (e a forma como a turma de
ladrões almeja o corpo, a fama, e a vida vazia de algumas dessas celebridades
me faz lembrar de uma frase de Obi-Wan Kenobi em Star Wars: “Quem é mais tolo, o tolo ou o tolo que o segue?”), e
parece fechar um primeiro ciclo na carreira da diretora.
O
prólogo é econômico, mas, com talento, conta tudo que o espectador precisa
saber a princípio: um grupo de adolescentes invade uma mansão à noite e rouba o
que consegue (“Vamos às compras”, diz uma das meninas). Após o acontecido, a
narrativa parece dar um salto, e vemos uma das personagens no que parece ser
uma demonstração de arrependimento. Logo somos apresentados à gangue que,
liderada por Rebecca Ahn (Katie Chang, destaque em um elenco de talento homogêneo),
executa invasões e roubos a casarões de Hollywood de forma amadora (sim, sem
planejamento, a mansão a ser assaltada é escolhida pouco antes do ato, e o
dinheiro e bens arrecadados são exibidos na noite californiana e em fotos no Facebook).
A
trama foi escrita pela própria diretora a partir de um artigo de 2010 da Vanity
Fair, intitulado “The Suspect Wore Louboutins”. Uma rápida pesquisa pela
internet revela o verdadeiro Bling Ring,
que era encabeçado pela imigrante mexicana Diana Tamayo. Comentar a imigração
latina, porém, não parece ser a intenção de Sofia Coppola, que lima Tamayo de
sua história, substitui a líder e sua quadrilha por uma descendente de
asiáticos, duas meninas que nunca deixam de tomar seu Adderall matinal e um
jovem recém-chegado a Calabasas, e injeta força em sua ideia de, através de Bling Ring, observar o “fascínio
americano por essa coisa meio Bonnie & Clyde”, cruzando As Patricinhas de Beverly Hills com Os Bons Companheiros.
O
resultado, aqui e ali, beira o excelente. Detalhes como os relatos dos excessos
de Lindsay Lohan e Mischa Barton, e o egocentrismo doentio da casa de Paris
Hilton (que em uma foto exibe uma camiseta com a pergunta “Você pode me bancar?”,
e cujo cão ironicamente se chama Peter Pan) são troféus em uma narrativa que por
si só já valeria o ingresso. A diretora já havia demonstrado talento em
retratar o tédio adolescente em As
Virgens Suicidas, um estudo sobre os efeitos da banalidade na mente dos
jovens. Mas se o nome daquele filme entregava o destino de suas personagens
principais, em Bling Ring, 14 anos
depois, é hora de preencher o vazio de outra forma.
Assim,
a cineasta que há 10 anos brindou o mundo com a obra-prima Encontros e Desencontros aparentemente encerra uma série de filmes
sobre o tédio, em um ciclo que, apesar de ter retratado diferentes momentos da
vida de seus protagonistas, começou e terminou na desiludida adolescência (e dessa vez, uma adolescência muito próxima da que a própria Sofia, filha de um dos maiores cineastas vivos, teve). Em 2013,
ainda sem direção.
No
Cinema, pelo menos, essa geração tem quem conte seus dramas e a liberte de
uma de suas muitas prisões: a falta de encantos.
The Bling Ring, Sofia Coppola, 2013
½

2 comments:
Eu amei, amei e amei!!
Achei genial essa ideia de roubar casas de Hollywoodianos! ahahah...
E achei mais genial ainda escolher a casa que seria assaltada pela marca que você queria: "Eu quero Chanel, vamos pegar algumas coisas", e o "Vamos às compras". Genial!!
Juro que não consigo ver tanto subtextos nos filmes dela;. so vejo tédio e gente futil na tela
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