Monday, August 12, 2013

Círculo de Fogo

Assistir aos filmes de Guillermo del Toro é certeza de, pelo menos, um espetáculo fabuloso de imagens. Não que o diretor não possua outras características: sempre apaixonado por seus trabalhos, os torna extremamente pessoais ao trazer para seus projetos observações sobre as obras e gêneros que moldaram sua cinefilia. Em Mutação, o terror, em Hellboy, os quadrinhos, já O Labirinto do Fauno era pura fantasia. Pois essa característica de Del Toro atinge seu ápice em Círculo de Fogo, um conto apaixonado sobre robôs, monstros, e a magia do Cinema.

Escrito pelo cineasta ao lado de Travis Beacham, a trama não poderia ser mais simples: de uma fenda no Pacífico, uma invasão alienígena surge em forma imensas criaturas, os Kaiju (sim, o nome dado pelos japoneses aos monstros da estirpe de Godzilla e Gamera). Cabe aos homens defender a Terra através do fogo contra fogo: contra aliens gigantes, as nações construíram os Jaegers, robôs gigantescos controlados por duas pessoas no interior da cabeça dos autômatos e que são capazes de enfrentar os monstros no meio do oceano, com a água nos joelhos.

À primeira vista, o que mais impressiona no longa é justamente o seu visual. Já no sensacional prólogo, del Toro desfila sua criatividade na concepção de Kaijus e Jaegers: Enquanto os monstros possuem designs próprios, mesclando sua monstruosidade com características animais (alguns se parecem com peixes, outros com tartarugas e por aí vai), os robôs são um espetáculo à parte, sempre possuindo traços da nação que os controla (o tom vermelho do robô chinês, e o aspecto de escafandro envelhecido da máquina pilotada pelos russos são os grandes destaques da produção). Aos poucos, porém, outras qualidades começam a aparecer e Círculo de Fogo começa a chegar a um novo patamar.

Indo na direção contrária à de Transformers, no qual não se conseguia distinguir quem batia e quem apanhava nas brigas dos robôs, aqui vê-se que del Toro entendeu que o olho humano precisaria de certo tempo para registrar o combate entre os gigantes, e por isso filma as pancadarias de forma lenta e (vá lá) realista, como se os pilotos dos Jaegers precisassem de um esforço descomunal para fazer toda aquela massa de aço mover os braços e pernas. O diretor procura também um enquadramento que torne as cenas mais palatáveis, se afastando de Michael Bay e se aproximando da tradição japonesa de filmar pancadaria entre criaturas gigantes.

Aliás, as citações à cultura pop Oriental vão além do design dos robôs (que possuem socos-foguete e espadas, como os mais clássicos tokusatsu), e do fato de o filme se debruçar sobre o Oceano Pacífico. A todo momento, Círculo de Fogo evidencia essa que é uma das maiores paixões de seu diretor. Aqui, as referências aos filmes, seriados, e desenhos japoneses dão as caras a cada minuto, nas mechas azuis do cabelo de Mako Mori, interpretada com vontade por Rinko Kikuchi (grande destaque no campo das atuações, ao lado de Idris Elba, sem falar na bem-humorada participação de Ron Perlman), e nas cenas de treinamento dos soldados, que lutam uns contra os outros e prezam o trabalho em equipe.

Por falar nos soldados, é interessante ver como del Toro se preocupa em não isolar seus personagens, nem mesmo quando eles estão dentro dos robôs (que só são controlados quando seus dois pilotos estabelecem uma conexão mental). O cineasta desenvolve as relações entre os homens, e toma a inteligente decisão de não transformar as máquinas em protagonistas ao contrário, por exemplo, de Battleship, a barulhenta e desapaixonada propaganda militar em forma de filme de invasão alienígena comandada por Peter Berg. Não que Círculo de Fogo não possua o componente militar, pelo contrário (esse é um traço inerente às produções do gênero), mas em momento nenhum se ocupa apenas com o planeta, esquecendo os homens que o defendem.

E por se preocupar com os habitantes da Terra, o diretor acaba tornando até as cenas de destruição de cidades (tão impessoais em produções do naipe de Transformers, Vingadores e O Homem de Aço) em algo mais. Em certo momento, um Jaeger encara um Kaiju no meio de Hong Kong, e logicamente eles destroem tudo que veem pela frente. Enquanto Zack Snyder, Joss Whedon, Michael Bay e Peter Berg se divertiriam apenas com a exterminação dos arranha-céus, del Toro resolve primeiro proteger seus cidadãos, escondendo-os em bunkers subterrâneos antes de se deliciar com explosões, socos e pontapés gigantes que acabam no espaço.

São essas características que transformam Círculo de Fogo em um dos melhores blockbusters dos últimos anos. Sem fazer pensar, sem promover discussões morais, apenas com um visual impressionante e muito talento na condução de uma narrativa simples, mas eficiente. Uma vitória do Cinema, e seu poder de maravilhar.

Por falar em kaiju, escrevi sobre o clássico Godzilla há algumas semanas. Confira

Pacific Rim, Guillermo del Toro, 2013 

2 comments:

joao said...

detestei. é verdade que as cenas da pra se entende,r mas pra mim é só mais um blockbuster de destruição vazio. pior filme do ano

Raquel Raposo said...

Filme muito maneiro!!!
Adorei!
Só eu ri com o alienígena perdendo os dentes??
#chatiada ahahaha...