Assistir
aos filmes de Guillermo del Toro é certeza de, pelo menos, um espetáculo
fabuloso de imagens. Não que o diretor não possua outras características:
sempre apaixonado por seus trabalhos, os torna extremamente pessoais ao trazer
para seus projetos observações sobre as obras e gêneros que moldaram sua
cinefilia. Em Mutação, o terror, em Hellboy, os
quadrinhos, já O Labirinto do Fauno
era pura fantasia. Pois essa característica de Del Toro atinge seu ápice em Círculo de Fogo, um conto apaixonado
sobre robôs, monstros, e a magia do Cinema.
Escrito
pelo cineasta ao lado de Travis Beacham, a trama não poderia ser mais simples:
de uma fenda no Pacífico, uma invasão alienígena surge em forma imensas
criaturas, os Kaiju (sim, o nome dado
pelos japoneses aos monstros da estirpe de Godzilla e Gamera). Cabe aos homens
defender a Terra através do fogo contra fogo: contra aliens gigantes, as nações
construíram os Jaegers, robôs
gigantescos controlados por duas pessoas no interior da cabeça dos autômatos e
que são capazes de enfrentar os monstros no meio do oceano, com a água nos
joelhos.
À
primeira vista, o que mais impressiona no longa é justamente o seu visual. Já no
sensacional prólogo, del Toro desfila sua criatividade na concepção de Kaijus e Jaegers: Enquanto os monstros possuem designs próprios, mesclando
sua monstruosidade com características animais (alguns se parecem com peixes,
outros com tartarugas e por aí vai), os robôs são um espetáculo à parte, sempre
possuindo traços da nação que os controla (o tom vermelho do robô chinês, e o
aspecto de escafandro envelhecido da máquina pilotada pelos russos são os
grandes destaques da produção). Aos poucos, porém, outras qualidades começam a
aparecer e Círculo de Fogo começa a
chegar a um novo patamar.
Indo
na direção contrária à de Transformers,
no qual não se conseguia distinguir quem batia e quem apanhava nas brigas dos
robôs, aqui vê-se que del Toro entendeu que o olho humano precisaria de certo
tempo para registrar o combate entre os gigantes, e por isso filma as
pancadarias de forma lenta e (vá lá) realista, como se os pilotos dos Jaegers precisassem de um esforço
descomunal para fazer toda aquela massa de aço mover os braços e pernas. O
diretor procura também um enquadramento que torne as cenas mais palatáveis, se
afastando de Michael Bay e se aproximando da tradição japonesa de filmar
pancadaria entre criaturas gigantes.
Aliás,
as citações à cultura pop Oriental vão além do design dos robôs (que possuem
socos-foguete e espadas, como os mais clássicos tokusatsu), e do fato de o filme se debruçar sobre o Oceano
Pacífico. A todo momento, Círculo de
Fogo evidencia essa que é uma das maiores paixões de seu diretor. Aqui, as
referências aos filmes, seriados, e desenhos japoneses dão as caras a cada
minuto, nas mechas azuis do cabelo de Mako Mori, interpretada com vontade por
Rinko Kikuchi (grande destaque no campo das atuações, ao lado de Idris Elba,
sem falar na bem-humorada participação de Ron Perlman), e nas cenas de
treinamento dos soldados, que lutam uns contra os outros e prezam o trabalho em
equipe.
Por
falar nos soldados, é interessante ver como del Toro se preocupa em não isolar
seus personagens, nem mesmo quando eles estão dentro dos robôs (que só são
controlados quando seus dois pilotos estabelecem uma conexão mental). O
cineasta desenvolve as relações entre os homens, e toma a inteligente decisão
de não transformar as máquinas em protagonistas ao contrário, por exemplo, de Battleship, a barulhenta e
desapaixonada propaganda militar em forma de filme de invasão alienígena
comandada por Peter Berg. Não que Círculo
de Fogo não possua o componente militar, pelo contrário (esse é um traço
inerente às produções do gênero), mas em momento nenhum se ocupa apenas com o planeta,
esquecendo os homens que o defendem.
E
por se preocupar com os habitantes da Terra, o diretor acaba tornando até as
cenas de destruição de cidades (tão impessoais em produções do naipe de Transformers, Vingadores e O Homem de Aço)
em algo mais. Em certo momento, um Jaeger
encara um Kaiju no meio de Hong Kong,
e logicamente eles destroem tudo que veem pela frente. Enquanto Zack Snyder,
Joss Whedon, Michael Bay e Peter Berg se divertiriam apenas com a exterminação
dos arranha-céus, del Toro resolve primeiro proteger seus cidadãos,
escondendo-os em bunkers subterrâneos antes de se deliciar com explosões, socos
e pontapés gigantes que acabam no espaço.
São
essas características que transformam Círculo
de Fogo em um dos melhores blockbusters dos últimos anos. Sem fazer pensar,
sem promover discussões morais, apenas com um visual impressionante e muito
talento na condução de uma narrativa simples, mas eficiente. Uma vitória do
Cinema, e seu poder de maravilhar.
Por falar em kaiju, escrevi sobre o clássico Godzilla há algumas semanas. Confira.
Por falar em kaiju, escrevi sobre o clássico Godzilla há algumas semanas. Confira.
Pacific Rim, Guillermo del Toro, 2013 

2 comments:
detestei. é verdade que as cenas da pra se entende,r mas pra mim é só mais um blockbuster de destruição vazio. pior filme do ano
Filme muito maneiro!!!
Adorei!
Só eu ri com o alienígena perdendo os dentes??
#chatiada ahahaha...
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