Sunday, September 01, 2013

Frances Ha

Noah Baumbach é, ao lado de Wes Anderson (com quem colaborou nos roteiros de A Vida Marinha com Steve Zissou e O Fantástico Sr. Raposo), o grande nome do cinema indie norte-americano atual. Em Frances Ha, seu sexto filme como diretor, ele lança mão de vários artifícios do nicho dos filmes independentes (trilha sonora pop, diálogos ágeis e bem-humorados) para assim construir um dos melhores filmes a estrearem por aqui em 2013,  daqueles que vão se revelando aos poucos uma pequena obra de arte.

Escrita por Baumbach em parceria com Greta Gerwig, a trama aborda a adorável Frances (vivida pela própria Gerwig) e suas tentativas de sobreviver e achar seu lugar em Nova York e no mundo em que vive. Frances não tem uma casa. Mora no apartamento da melhor amiga Sophie, seu porto-seguro, sua companheira desde o ensino médio, e com quem compartilha segredos, sonhos e incertezas. A esperança da protagonista para a independência (e o amadurecimento, um dos temas centrais do longa) é ser efetivada na companhia de dança da qual faz parte, por enquanto (ou ainda, aos 27 anos), apenas como aprendiz. Quando Sophie resolve se mudar para um apartamento melhor localizado (e que Frances, obviamente, não tem condições de pagar) a heroína precisa aprender a caminhar com as próprias pernas e lidar com a distância de sua alma gêmea (“Sophie sou eu com o cabelo diferente”, diz Frances em certo momento) e com a solidão, sem (quase) nunca perder a alegria, sua marca registrada.

Alguns pontos são cruciais para o sucesso artístico do longa-metragem. A escalação de um elenco praticamente desconhecido (quem assiste ao seriado Girls da HBO, com o qual o filme de Baumbach até guarda algumas semelhanças temáticas, reconhecerá Adam Driver) revela um caráter extremamente atemporal da narrativa e sua intenção de aproximar seus personagens do espectador. A presença de um astro afetaria aquele universo de modo irreparável. A expressiva fotografia em preto-e-branco de Sam Levy é outro achado, pois ela é crucial na exposição do ponto de vista de Baumbach e Gerwig sobre Nova York, aproximando Frances Ha de Manhattan, de 1979, apenas para desconstruir a visão apaixonada da obra-prima de Woody Allen. Para os roteiristas, a metrópole (não só essa, mas qualquer uma, como Paris ou Tóquio) é uma destruidora de sonhos, e o choque fica ainda mais evidente na passagem que mostra a visita de Frances aos pais (vividos pelos próprios pais de Greta Gerwig).

A força-motriz de Frances Ha, porém, é mesmo sua protagonista. Apaixonada pela arte de dançar, e sempre tentando levar a vida com bom-humor, Frances nunca parece encontrar seu espaço, apesar de tentar desesperadamente se conectar com praticamente todos os personagens que povoam a tela após a partida de Sophie. Dois momentos são particularmente reveladores dessa vontade de estabelecer contato com o mundo. Em um, uma bêbada Frances é aconselhada por Benji, com quem divide apartamento durante um tempo, a deitar-se, mas pôr o pé no chão (pés no chão, o oposto de sonhar) para assim parar de ver o mundo girar. Em outra cena igualmente bela, o mesmo Benji tenta colocar um par de fones de ouvido, clássico instrumento de isolamento, em Frances, que rejeita veementemente o aparelho. O que a protagonista quer não é se isolar, mas se integrar.

Integração que acontece quando a heroína, nossa sobrevivente, faz enfim o que gosta e é reconhecida por isso, quando adapta seu nome para caber na identificação da caixa de correio de seu prédio, e quando realiza seu sonho de estar em uma festa e cruzar os olhos com a pessoa mais importante de sua vida. Afinal, como podemos viver bem estando longe do que amamos?

Frances Ha, Noah Baumbach, 2012 

2 comments:

Raquel Raposo said...
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Raquel Raposo said...

Realmente é difícil viver bem estando longe do que amamos...

Eu gostei bastante da reta final do filme. Acho linda demais a cena que ela e Sophie ficam se olhando e rindo uma para a outra, na festa.
O filme é muito bonito!