Noah
Baumbach é, ao lado de Wes Anderson (com quem colaborou nos roteiros de A Vida Marinha com Steve Zissou e O Fantástico Sr. Raposo), o grande nome
do cinema indie norte-americano atual. Em Frances
Ha, seu sexto filme como diretor, ele lança mão de vários artifícios do
nicho dos filmes independentes (trilha sonora pop, diálogos ágeis e bem-humorados)
para assim construir um dos melhores filmes a estrearem por aqui em 2013, daqueles que vão se revelando aos poucos uma
pequena obra de arte.
Escrita
por Baumbach em parceria com Greta Gerwig, a trama aborda a adorável Frances
(vivida pela própria Gerwig) e suas tentativas de sobreviver e achar seu lugar
em Nova York e no mundo em que vive. Frances não tem uma casa. Mora no
apartamento da melhor amiga Sophie, seu porto-seguro, sua companheira desde o
ensino médio, e com quem compartilha segredos, sonhos e incertezas. A esperança
da protagonista para a independência (e o amadurecimento, um dos temas centrais
do longa) é ser efetivada na companhia de dança da qual faz parte, por enquanto
(ou ainda, aos 27 anos), apenas como aprendiz. Quando Sophie resolve se mudar
para um apartamento melhor localizado (e que Frances, obviamente, não tem
condições de pagar) a heroína precisa aprender a caminhar com as próprias
pernas e lidar com a distância de sua alma gêmea (“Sophie sou eu com o cabelo
diferente”, diz Frances em certo momento) e com a solidão, sem (quase) nunca
perder a alegria, sua marca registrada.
Alguns
pontos são cruciais para o sucesso artístico do longa-metragem. A escalação de
um elenco praticamente desconhecido (quem assiste ao seriado Girls da HBO, com o qual o filme de
Baumbach até guarda algumas semelhanças temáticas, reconhecerá Adam Driver)
revela um caráter extremamente atemporal da narrativa e sua intenção de
aproximar seus personagens do espectador. A presença de um astro afetaria
aquele universo de modo irreparável. A expressiva fotografia em preto-e-branco
de Sam Levy é outro achado, pois ela é crucial na exposição do ponto de vista
de Baumbach e Gerwig sobre Nova York, aproximando Frances Ha de Manhattan,
de 1979, apenas para desconstruir a visão apaixonada da obra-prima de Woody
Allen. Para os roteiristas, a metrópole (não só essa, mas qualquer uma, como
Paris ou Tóquio) é uma destruidora de sonhos, e o choque fica ainda mais
evidente na passagem que mostra a visita de Frances aos pais (vividos pelos próprios pais de Greta Gerwig).
A
força-motriz de Frances Ha, porém, é
mesmo sua protagonista. Apaixonada pela arte de dançar, e sempre tentando levar
a vida com bom-humor, Frances nunca parece encontrar seu espaço, apesar de
tentar desesperadamente se conectar com praticamente todos os personagens que
povoam a tela após a partida de Sophie. Dois momentos são particularmente
reveladores dessa vontade de estabelecer contato com o mundo. Em um, uma bêbada
Frances é aconselhada por Benji, com quem divide apartamento durante um tempo, a
deitar-se, mas pôr o pé no chão (pés no chão, o oposto de sonhar) para assim
parar de ver o mundo girar. Em outra cena igualmente bela, o mesmo Benji tenta
colocar um par de fones de ouvido, clássico instrumento de isolamento, em
Frances, que rejeita veementemente o aparelho. O que a protagonista quer não é se
isolar, mas se integrar.

2 comments:
Realmente é difícil viver bem estando longe do que amamos...
Eu gostei bastante da reta final do filme. Acho linda demais a cena que ela e Sophie ficam se olhando e rindo uma para a outra, na festa.
O filme é muito bonito!
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