Wednesday, September 11, 2013

Minha Mãe é uma Peça

A comédia brasileira vive um momento de terrível estagnação. O gênero, outrora fonte de belas obras na cinematografia nacional, vive um momento em que confunde potencial mercadológico com falta de qualidade, reciclando ideias ruins e apostando numa estética televisiva que, além de soar preguiçosa, revive clichês como se piadas de gordo e de peido fossem as únicas coisas capazes de fazer o público se divertir. Dito isso, Minha Mãe É uma Peça, veículo de promoção do comediante Paulo Gustavo (estrela do projeto e autor do roteiro que adapta sua própria peça), é um dos piores exemplares de um nicho que há anos mostra sinais de desgaste no Brasil, e que parece ter enfim atingido o fundo do poço.

Iniciada por uma narração em off que situa a trama (coescrita por Fil Braz) na cidade de Niterói, a história de Minha Mãe É uma Peça gira em torno de Dona Hermínia (vivida por Paulo Gustavo), dona de casa dedicada que, após se decepcionar com os filhos adolescentes, resolve passar um tempo na casa de uma tia, longe de sua atarefada vida de mãe, e enquanto isso relembra momentos importantes da criação dos rebentos.

O visual dos personagens é, talvez propositalmente, exagerado. Hermínia, em especial, com seus bobes na cabeça até na hora de dormir, seus figurinos estampados e sua voz alta, ao mesmo tempo em que faz piada (não muito engraçada) com a imagem projetada de como são todas as mães, aproxima Minha Mãe é uma Peça de sua versão dos palcos, e poucas coisas são mais chatas do que a artificialidade do teatro filmado.

O diretor estreante em longas-metragens André Pellenz contribui para o insucesso da empreitada com suas estratégias narrativas mal escolhidas, do visual de especial global de fim de ano (incluindo aquele clássico plano que mostra a frente do prédio no qual a cena seguinte irá se desenrolar), até a forma escolhida pelo cineasta, em parceria com o montador Marcelo Moraes, de como fazer a narrativa saltar do presente para as memórias de Hermínia, transformando cada lembrança em um esquete. Não que isso seja exatamente um problema. Ted, de Seth Macfarlane, utilizou estratégia parecida e se saiu muito bem. O problema é que Pellenz parece ter se inspirado em Zorra Total.

Em uma experiência problemática como Minha Mãe é uma Peça (e que não é um caso isolado na filmografia nacional recente), discutir os rumos de um gênero acaba sendo muito mais importante do que analisar o desenrolar da trama e o destino dos personagens. Porém, a questão que infelizmente paira no ar é: vale a pena discutir?

OBS: Ao final da projeção, descobrimos o quão pessoal para Paulo Gustavo foi a realização de Minha Mãe é uma Peça. Ali, consegui perceber o porquê de o comediante ter claramente se divertido tanto na concepção de Dona Hermínia. Pena que a diversão e a alegria ficaram apenas do lado de lá da tela.

Minha Mãe é uma Peça, André Pellenz, 2013 

1 comment:

joão said...

Olha,eu até acho o filme engraçadinho. nada de mais, só que divertido. daria 3 estrelas. Mas concordo com esses problemas. a questão é que quando se acha graça, acaba tolerando. Porem do jeito que esses filmes fazem sucesso, o gênero deve continuar reinando no brasil por um bom tempo. e convenhamos. se lucrassemos com filmes assim, também iriamo produzir mais. a opinião critica não importa nada perto do sucesso financeiro