A
fim de se conseguir um resultado que soe honesto, nem sempre um filme precisa
fugir das convenções. No terror, em especial naqueles de casa mal-assombrada,
então, nem se fala. Se portas que rangem, bonecas medonhas, passagens secretas
e porões infestados de teias de aranha alimentam esse nicho há décadas, e muitas
vezes com resultados extraordinários, não tem porque mudar. No fim das contas,
a grande sacada acaba estando não em fugir dos clichês, mas em como uma obra se
apodera e lança mão deles.
O
diretor James Wan tem se especializado nesse subgênero, e aos poucos (principalmente
após ter dirigido o primeiro, e ótimo, Jogos Mortais) começa a se tornar um dos
grandes nomes do horror nos anos 2000. Seu longa anterior, Sobrenatural, de
2011, foi uma mostra do que o cineasta poderia ser capaz de fazer. Um filme extremamente tenso, que se aproveitava do que já havia sido feito em matéria de
filmes de fantasmas e absorvia tudo como uma esponja. Derrapava um pouco em sua
reta final, é verdade, mas o caminho até chegar ao terceiro ato era um primor.
Em
Invocação do Mal, novo filme de Wan, nota-se uma clara evolução do estilo do
cineasta, que parece ainda mais confiante e seguro de si. Apoiado por trabalhos
primorosos de fotografia, direção de arte e trilha sonora, o malaio faz um filme com potencial para virar clássico e cria algumas das cenas mais tensas dos últimos tempos.
Não
tem nada de novo em Invocação do Mal, que é (como alardeado pelo seu letreiro inicial) inspirado em fatos: em 1971 (ótima recriação de época), uma família, os Perron, (pai, mãe e cinco
filhas) compra uma casa nova. Rapidamente coisas estranhas começam a acontecer:
a cadela da família aparece morta, a mãe passa a apresentar manchas roxas pelo
corpo e a ouvir palmas pela casa (a brincadeira de hide-and-clap praticada pela
família rende pelo menos dois grandes momentos durante o longa). Quando a família
percebe que está sendo assombrada por forças demoníacas, apela para o casal de
investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren, que tentará ajudar a família a
acabar com esse pesadelo.
Uma
trama das mais batidas que atesta o que foi dito no início desse texto, pois James
Wan não quer saber de inventar. Pelo contrário: contando com o texto eficiente
de Chad e Carey Hayes (os mesmo de A Casa de Cera, que era uma bomba, mas que
em compensação também reverenciava inúmeras obras), o diretor vomita homenagens,
da influência explícita de O Exorcista e Terror em Amityville à rápida cena que
cita Poltergeist de forma elegante. Um festival de quadros despencando, portas
batendo e sustos envolvendo espelhos, coisas que qualquer um que tenha visto
três filmes de terror conhece, mas que graças à mão de Wan, sua decisão de usar
o mínimo possível de computação gráfica, seu controle sobre os atores (um belo
elenco, que conta com Ron Livingston, Patrick Wilson e Vera Farmiga, além de
uma Lili Taylor em estado de graça), sua câmera que parece respirar e seus
personagens confinados em espaços apertados (os aposentos do lar dos Perron até
que não são pequenos, mas os móveis pesados e as sombras acabam oprimindo os
personagens, em especial as crianças), funcionam novamente, e de forma
apavorante. É quase impossível para o espectador não embarcar na onda e
acreditar de verdade no que está vendo na tela.
Envolve,
assusta e, ao contrário de Sobrenatural, se encerra de maneira gloriosa. Em
tempos de crise criativa no cinema de horror, James Wan acaba sendo um nome que
faz o cinéfilo confiar em dias melhores (ou piores, mais desgraçados e
assustadores) para o gênero.
The Conjuring, James Wan, 2013 

2 comments:
Grande filme. otimo texto
http://cinemania-joaolcm.blogspot.com.br/2013/09/invocacao-do-mal.html
Adorei o filme!!
Realmente assustador, de fazer dormir com a luz acesa!
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