É
curioso constatar que o novo filme de Robert Schwentke seria mais bem recebido,
ou mais assistido, se tivesse sido lançado em 1998, aproveitando o auge do
sucesso de M.I.B. – Homens de Preto.
Muitas vezes, quando um filme faz grande sucesso comercial, uma enxurrada de
produções parecidas surge para aproveitar a onda. R.I.P.D. – Agentes do Além possui tantas intersecções com aquele
divertido filme de Barry Sonnenfeld que ignorá-las acaba se tornando uma tarefa
das mais difíceis. Em compensação, graças ao bom visual e ao seu elenco (que
conta com nomes como Jeff Bridges, Kevin Bacon e Ryan Reynolds, e que parece
ter se divertido horrores), não chega a ser ruim.
A
trama, escrita por Phil Hay e Matt Manfredi (responsáveis também pelo texto do
fraco Fúria de Titãs e do horroroso Aeon Flux), baseados em uma minissérie
em quadrinhos da Dark Horse Comics, conta a história de Nick Walker (Reynolds),
policial corrupto envolvido, juntamente com o parceiro Bobby Hayes (Bacon), em
um acordo que envolvia esconder em segredo peças de ouro encontradas pelos
tiras. Quando Nick resolve sair do esquema, para tocar a vida em paz ao lado da
esposa Julia, ele é morto por Hayes. Assim que morre, Nick passa para o plano
espiritual, e acaba ingressando no R.I.P.D. (Rest in Peace Department), uma
espécie de Polícia do Outro Lado, cujas missões envolvem caçar mortos que
fugiram do Além, e andam disfarçados pela Terra. Ao lado do novo (e experiente)
parceiro Roy Pulsipher (Bridges), Nick vai caçar o homem que o traiu e o matou.
R.I.P.D.
possui soluções visuais interessantes. A manhã na casa dos apaixonados Nick e
Julia é um bom exemplo de uso de cores quentes para retratar felicidade e afeto
(créditos à competente fotografia de Alwin H. Küchler). Os bons (apesar de um
pouco artificiais aqui e ali) efeitos especiais, usados com inteligência por
Robert Schwentke, também possuem uma parcela de responsabilidade no bom visual
do longa. Particularmente bem resolvida é a cena que mostra o despertar de Nick
após ser baleado e morto, e mesmo batido, é um dos bons momentos do longa.
Infelizmente,
apesar de curta (95 minutos), a narrativa só parece começar a andar a partir de
cinquenta minutos, gastando todos os outros 49 para apresentar personagens e
revelar ao espectador as regras e descrições do plano espiritual (a relação dos
mortos-vivos com a comida, o modo que os agentes utilizam para andar pela Terra
sem serem reconhecidos) e do trabalho dos policiais do Além (como capturar os
mortos, a relação dos agentes com seus “superiores”), o que poderia muito bem
ter acontecido em concomitância com a trama principal.
As
semelhanças excessivas com a série Homens
de Preto (que começam já na concepção da sede do Rest in Peace Department,
extremamente parecida com a central de M.I.B.)
também vão de encontro às pretensões do filme, e deixam em R.I.P.D. um amargo gosto de repetição e falta de personalidade.
Desde o início da projeção, o espectador sabe exatamente o que vai acontecer, e
não devido às convenções do gênero (cujo uso foi defendido em meu texto sobre Invocação do Mal) e dos Buddy Cop Movies, mas aos traços que o
longa de Schwentke mantém com a trilogia estrelada por Will Smith e Tommy Lee
Jones, e mesmo a personalidade de Nick e Roy acabam por aproximar os
protagonistas de R.I.P.D. dos
agentes J e K.
Para
balancear os problemas, que vão ficando mais e mais evidentes conforme o filme
de desenvolve (repare que as cenas aqui citadas como destaques acontecem nos primeiros
minutos de projeção), Robert Schwentke apresenta um terceiro ato dinâmico e
deliciosamente exagerado, explicitando as tendências infanto-juvenis da
narrativa e evidenciando a origem dos personagens e as raízes de R.I.P.D. – Agentes do Além encravadas
na editora que é um dos braços mais fortes dos quadrinhos independentes. Pena
que o estrago já estava feito, e aquela impressão de que o longa de Schwentke
deveria ter se desenrolado melhor durante seus dois primeiros atos acaba sendo
maior do que a diversão proporcionada pela sua reta final.
R.I.P.D., Robert Schwentke, 2013 

1 comment:
E como eu disse no início do filme: "nem é o M.I.B., né?"
Só faltou nomear os agentes por letra, ou por um número...
Achei legalzinho.
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