É
no mínimo estranho que no Brasil, considerado o País do Futebol (ou pelo menos assim
éramos conhecidos quando nossa Seleção era mais respeitada e nossos craques
jogavam aqui), os filmes sobre o tema sejam tão raros. Quando longas-metragens (geralmente
documentários) sobre o tema são gerados, eles geralmente acabam em um de duas
possibilidades: 1) Acabam sendo lançados direto no mercado de DVD, como os
belos Copa União e Um Craque Chamado Divino, ou 2) recebem
um lançamento tímido e destaque minúsculo como esse Fla x Flu – 40 Minutos Antes do Nada.
Essa
decisão de não apostar em um filme sobre futebol, aliada à desconfiança do
sucesso comercial de um documentário entra em conflito direto com a popularidade
do assunto proposto e com a clareza e simplicidade com a qual o diretor Renato
Terra (de Uma Noite em 67) o aborda.
Ao invés de adotar uma linha narrativa didática e explanatória, contando a
história do clássico mais famoso do País (o que seria um grande tiro no pé), o
cineasta resolve apostar em uma estrutura formulaica, mas que acerta em cheio
as suas pretensões.
Fla x Flu
é um filme de entrevistas, um documentário de relatos que, bem-humorados, vão
muito além da simples tarefa de adotar a linha do tempo como padrão narrativo,
transformando os 85 minutos de projeção em um estudo sobre os limites da paixão.
Às vezes, paixão conquistada nos ecos do maracanã (como o depoimento do
jornalista Roberto Assaf, que se tornou torcedor do Flamengo após experiência
inesquecível no ex-Maior do Mundo). Outras vezes, paixão transformada em fanatismo,
dando origem a entrevistas que de tão absurdas beiram o folclore, e convertem o
torcedor Desirée em uma estrela.
A
fórmula repetitiva (que ouve um ex-jogador de Fla, depois um do Flu, um
torcedor de um, depois um torcedor de outro, uma celebridade rubro-negra, em
seguida uma celebridade tricolor) poderia ser um problema, mas funciona como
um trunfo de Fla x Flu, conseguindo construir um filme simples e de forte
apelo popular, graças às provocações (“admiro o Fluminense pelo pioneirismo em
inaugurar a segunda e a terceira divisão aos clubes grandes”) e histórias
filmadas por Terra. Seja nas vozes dos ex-jogadores Zico, Júnior e Romário,
seja com nomes como Pedro Bial, Tony Platão e Sacha Rodrigues (neto de Nelson Rodrigues
e dono da melhor sacada do longa, o canto gregoriano), o clássico centenário é
citado, grandes momentos são lembrados, e sensações são evocadas.
Tais
sensações ganham momentos de êxtase graças às imagens de arquivo de jogos
marcantes, e de emoção na voz engasgada de Leandro e no choro sincero de Assis.
É em momentos como esses que a simplicidade da linguagem de Terra encontra a
sinceridade desses homens cheios de saudade, fazendo de Fla x Flu um filme vencedor.
Fla x Flu – 40 Minutos
Antes do Nada, Renato Terra, 2013 

2 comments:
Achei excelente! Muito bom mesmo!!
grande filme e o clima de provocação é o máximo
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