Woody
Allen é um apaixonado pela imagem feminina. As mulheres têm papel fundamental em
praticamente todos os seus filmes, seja na função de protagonista, seja catalisando
as ações de homens que acabam sendo influenciados, propositalmente ou não, por
elas. Blue Jasmine, seu 14º trabalho
nos anos 2000, não foge à regra: o cineasta comenta um assunto que está em
moda, a crise econômica, através do microcosmo: sua nova musa, Cate Blanchett.
Ao
contrário de outros mais, digamos, engajados (como Oliver Stone, por
exemplo), o diretor não deseja fazer aqui o seu “filme de recessão”. Pelo contrário:
o cenário é pano de fundo para mais um de seus contos e a fração financeira da
história é mais um fator a influenciar o comportamento e a vida de sua
protagonista, Jasmine. Sua vida era perfeita: casada com o milionário Hal
(interpretado por Alec Baldwin) e habituada a frequentar a alta-sociedade, a
dondoca vê sua vida virar de cabeça para baixo quando o marido é preso por
fraude. Após um colapso nervoso, Jasmine acaba indo morar com a irmã.
A
doce Ginger, vivida com paixão por Sally Hawkins (em um papel que inclusive
remonta a Poppy, personagem vivida por Hawkins em Simplesmente Feliz), é o oposto da esnobe Jasmine, e resolve acolhê-la
durante o período de dificuldades, apesar dos problemas que elas tiveram em um
passado não muito distante, e mesmo que isso implique no adiamento de alguns de
seus planos, o que acaba frustrando seu noivo Chili.
Allen
é famoso por não poupar seus personagens, e em Blue Jasmine, ele talvez atinja seu ápice na acidez com que trata a
situação de sua protagonista: não existe possibilidade de redenção para Jasmine
que, apesar de se comportar como se fosse vítima, é uma pessoa completamente desprezível.
Cate Blanchett, responsável por encarnar a ex-socialite, a entende direitinho e
entrega um de seus melhores trabalhos, retratando não só a mulher mesquinha que
Jasmine sempre foi como também a pessoa triste e depressiva que acaba se
tornando. A cena em que ela retorna para casa após uma frustrada visita a uma
loja de joias e a sequencia que se segue são momentos dignos de figurarem no
panteão de destaques da carreira da australiana.
Aí
entra em cena outra característica conhecida de Allen: a maneira como ele se derrete
por suas musas. A forma como ele filma Blanchett é cuidadosa na forma como ela preenche cada quadro em que aparece. O gigantismo da atriz em cena e o
quanto ela parece cravar suas unhas no papel e ofuscar o ótimo elenco que a
cerca são encantadores.
Em
seu desenrolar, porém, o drama de Jasmine e seu constante naufrágio emocional acabam
soando como moralismo que, como qualquer conto da mesma natureza, precisa
encontrar os culpados pelo sofrimento dos justos e puni-los, em um filme que não
oferece muitas oportunidades de redenção para a protagonista. As poucas que
aparecem, ela as deixa escapar em um mar de mentiras e amargura. E o
plano final, apesar de preguiçoso ao sugerir uma perpetuação, é condizente com
o pessimismo que margeia toda a narrativa. Surpreendente para um cineasta que é
apreciador de tragicomédias, mas não o maior defensor de lições de moral.
Blue Jasmine,
Woody Allen, 2013
½

2 comments:
consegui até ter pena da jasmine de tão forte que é a interpretação da atriz.
achei um filme bem pesado pros padrões woody allen e adorei o desfecho da protagonista
Eu esperei até o último minuto pela redenção.
E, assim como o João, também senti muita pena, e fiquei feliz quando ela encontrou outro cara. Rsrs...
Adorei o filme!
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