Refilmar
um clássico do terror é uma aposta no mínimo arriscada, devido aos diversos
resultados que podem ocorrer. Corre-se o risco de arrumar problemas com os fãs
mais radicais, afastar o público jovem do longa mais antigo além de, na pior
das hipóteses, diminuir o impacto da obra original.
O
novo Carrie, A Estranha não chega a
ser ruim a ponto de comprometer o maravilhoso filme que lhe deu origem, mas
também fica muito longe de ser aceitável. Lançado em 76, o primeiro Carrie era um achado, contando com um
roteiro que eliminava a gordura do romance de Stephen King, sua porção investigativa,
e com a direção de Brian De Palma para ser um conto de horror sobre o
desabrochar de uma mulher, seus ritos de passagem e sua confusão mental que
quase definiu uma geração.
Sua
versão mais nova, no entanto acaba empacando. Parece que sobrou reverência à
diretora Kimberly Peirce (repare nos créditos iniciais e em como a direção de
arte emula a década de setenta nos cenários e veículos), mas acabou lhe
faltando compreensão acerca do material que tinha nas mãos. A história é igual
e se desenrola quase da mesma forma: Carrie contraria sua mãe, vai ao baile de
formatura e acaba tendo a pior noite de sua vida, amadurecendo da forma mais
amarga.
Desde
o início, porém, o projeto já parecia fadado ao fracasso. A escolha do elenco
já dava indícios da ausência de entendimento acerca da narrativa por parte dos
envolvidos na produção da empreitada. Chloë Grace Moretz, apesar de todo o
potencial que possui, nunca seria uma boa Carrie. Após cenas pouco inocentes em
Sombras da Noite e Em Busca de um Assassino, e ser vista
dilacerando adultos em Deixe-me Entrar
e Kick-Ass, Moretz simplesmente não
consegue emular metade do ar de inocência que Sissy Spacek possuía no longa de
De Palma. Tudo que ela faz, apesar do esforço da atriz, parece falso, fingido.
Outro
indício de que não se tinha muita noção do que fazer com a trama é a atenção
que a narrativa dá para a descoberta que Carrie faz de seus poderes. Ela os estuda
demais e aprende a manipulá-los de tal forma que dá a impressão de que Carrie
estava aprendendo a se defender, o que diminui e muito o impacto de suas ações
no terceiro ato. O texto de Roberto Aguirre-Sacasa, talvez por sua experiência
na série de TV Glee, transforma Carrie, A Estranha em um filme sobre
vinganças de adolescentes. A vilã unidimensional, uma vagabunda, se vinga de
Carrie e ela, atormentada, tem sua revanche na recriação da clássica cena do massacre
no baile de formatura, mal filmada em uma profusão inexplicável de
câmeras-lentas.
Chris,
a tal vilã, grande responsável pelo misto de intolerância, pena e ódio coletivo
da escola pela protagonista, é a personagem que mais sofre com essa nova adaptação comandada
por Peirce. Antes uma mulher forte, além de muito mais experiente que sua maior
inimiga, que faz uso de seu poder de sedução para persuadir seu namorado a
ajudá-la em sua vendeta, ela foi reduzida a um rascunho, uma massa facilmente
manipulada pelo seu macho, que articula todo o plano. E o mais decepcionante é
ver que a cineasta tem lampejos de criatividade em algumas cenas, como à qual
Carrie vê sua mãe (interpretada no modo-imitação por Julianne Moore) se
aproximando de forma distorcida através do vidro, mas esbarra em sua filosofia
e seu sexismo, que também se revela em uma cena em que, após descobrir como
controlar sua telecinese, Carrie entra no banheiro toda descabelada e sai com
as madeixas muito bem escovadas, em uma metáfora muito mais do que óbvia.
É
a Crepuscularização do cinema, era de algumas mulheres que realizam obras sobre
o universo feminino, mas que acabam sendo extremamente machistas na maneira
como suas personagens encaram o sexo e suas relações com os homens.

2 comments:
achei o filme ok. o maior problema foi Chloë Grace Moretz, que não convence como carrie.é dificil acreditar que ela seria a garota vitima das outras. precisava no minimo de muita maquiagem pra deixa-la estranha, ou outra atriz
Eu achei o filme legal.
Não posso nem compara o primeiro com esse por ainda não ter visto. Mas fiquei curiosa agora.
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