Jogos Vorazes
foi um dos blockbusters mais eficientes de 2012. Ao escrever sobre as surpresas
daquele ano, eu disse que “após o fim da série Harry Potter e a reta final da ‘saga’ Crepúsculo, a Indústria sentia a
necessidade de mais uma franquia infanto-juvenil para encher seus cofres. Um
dos resultados foi esse ótimo The Hunger Games,
em que Gary Ross (roteirista de Quero Ser Grande e diretor de Pleasantville) entendeu que o público jovem também pode (e
deve) ser alertado por mensagens de pessimismo enquanto costura uma trama de
ação futurista das boas.”
Em relação à continuação de Jogos Vorazes, uma boa notícia: ela é ainda melhor.
Dessa vez comandado por Francis Lawrence (de Eu Sou a Lenda e Constantine), a adaptação do segundo volume da trilogia de livros
da autora Suzanne Collins funciona sob todos os aspectos, inclusive lapidando o
que já havia dado certo no longa anterior. Se a primeira aventura era um
refresco no cinema juvenil acostumado com Bella, Edward & Cia justamente por
cuidar tão bem de seus personagens, Em
Chamas consegue desenvolver a trama ao mesmo tempo em que se preocupa com
seus heróis, em especial com a protagonista Katniss Everdeen.
Grande parte desse sucesso narrativo se dá devido ao texto
ágil de Simon Beaufoy e Michael Arndt, que não perde tempo: por se tratar de
uma sequencia direta dos acontecimentos do primeiro filme, o roteiro de Em Chamas parte do princípio de que o
espectador já conhece aqueles personagens e mergulha de cabeça na missão de se
debruçar com mais atenção sobre o caos vivido em Panem, sociedade que, assim
como em muitas outras sociedades de muitas outras obras, inclusive de mídias
distintas (a distopia é um dos conceitos mais abordados no universo da ficção
científica), se aproveita da força midiática, aqui representada por um
violentíssimo reality show, para entreter os cidadãos e manter a ordem e o
sistema totalitário instaurado.
Vencedora da última edição da competição que nomeia a série,
Katniss (novamente vivida pela ótima Jennifer Lawrence) agora convive com os
efeitos de sua exposição: ao mesmo tempo em que tem pesadelos com o que
presenciou durante os Jogos, vê sua vitória se transformar em símbolo de esperança
e motivação para que o povo se levante contra o autoritarismo do Estado, aqui personificado
por Snow, responsável pelo show que venda as pessoas para a realidade.
Por retomar o conceito de distopia e trabalhá-lo em uma
aventura juvenil, Em Chamas já
mereceria aplausos. Mas o filme vai além por tratar o tema com cuidado,
construindo cenas que, ao mesmo tempo em que movimentam a trama, adicionando a
ela mais camadas, são filmadas de forma tocante por Lawrence. O discurso de
Katniss em homenagem a Rue é o melhor exemplo, principalmente pela coragem do
texto e de Francis Lawrence por encerrá-la de forma chocante, com uma porta que
não se fecha antes de vermos uma arma sendo disparada.
Essa é a grande evolução do longa em relação à aventura
anterior: a paciência em trabalhar a ambientação (o momento político de Panem, os
resultados da superexposição de Katniss e Peeta, a reapresentação dos
personagens de Liam Hemsworth, Woody Harrelson e Leny Kravitz, além da introdução do fantástico Plutarch Heavensbee de Philip Seymour Hoffman) em detrimento da
correria desenfreada que se instala no momento em que a nova edição dos Jogos
começa. Nesse primeiro momento da narrativa, que dura pouco mais da metade da projeção,
Lawrence faz o que já tinha dado certo com Gary Ross, abusando de enquadramentos
(Plano Americano, Meio Primeiro Plano) que chamam atenção para os eficientes
trabalhos de maquiagem e concepção dos figurinos, destaques técnicos da
produção.
Curioso notar que, a fim de trabalhar a trama, Beaufoy e Arndt
preparam terreno demais. Os Jogos em si, por sua vez, apesar de novamente empolgantes
e de contarem com integrantes ainda mais bem resolvidos pelo roteiro, seguem
sem surpreender até o final, quando uma virada recupera o fôlego da narrativa e
a encerra com um dos melhores cliffhangers
(artifício cada vez mais comum na Hollywood das franquias interligadas) da
temporada.
Se o primeiro filme da série já possuía qualidades inegáveis,
Lawrence, Beaufoy e Arndt mostram em Em
Chamas que, assim como as flechas eletrificadas de Katniss, o céu é o
limite para a franquia mais surpreendente dos últimos anos.
The Hunger Games: Catching Fire, Francis Lawrence, 2013 

2 comments:
otimo filme, mas a parte dos jogos prpriamente dita me cansaram um pouco
Uma belezura!!
Adorei!
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