Tuesday, November 19, 2013

Jogos Vorazes: Em Chamas

Jogos Vorazes foi um dos blockbusters mais eficientes de 2012. Ao escrever sobre as surpresas daquele ano, eu disse que “após o fim da série Harry Potter e a reta final da ‘saga’ Crepúsculo, a Indústria sentia a necessidade de mais uma franquia infanto-juvenil para encher seus cofres. Um dos resultados foi esse ótimo The Hunger Games, em que Gary Ross (roteirista de Quero Ser Grande e diretor de Pleasantville) entendeu que o público jovem também pode (e deve) ser alertado por mensagens de pessimismo enquanto costura uma trama de ação futurista das boas.

Em relação à continuação de Jogos Vorazes, uma boa notícia: ela é ainda melhor.

Dessa vez comandado por Francis Lawrence (de Eu Sou a Lenda e Constantine), a adaptação do segundo volume da trilogia de livros da autora Suzanne Collins funciona sob todos os aspectos, inclusive lapidando o que já havia dado certo no longa anterior. Se a primeira aventura era um refresco no cinema juvenil acostumado com Bella, Edward & Cia justamente por cuidar tão bem de seus personagens, Em Chamas consegue desenvolver a trama ao mesmo tempo em que se preocupa com seus heróis, em especial com a protagonista Katniss Everdeen.

Grande parte desse sucesso narrativo se dá devido ao texto ágil de Simon Beaufoy e Michael Arndt, que não perde tempo: por se tratar de uma sequencia direta dos acontecimentos do primeiro filme, o roteiro de Em Chamas parte do princípio de que o espectador já conhece aqueles personagens e mergulha de cabeça na missão de se debruçar com mais atenção sobre o caos vivido em Panem, sociedade que, assim como em muitas outras sociedades de muitas outras obras, inclusive de mídias distintas (a distopia é um dos conceitos mais abordados no universo da ficção científica), se aproveita da força midiática, aqui representada por um violentíssimo reality show, para entreter os cidadãos e manter a ordem e o sistema totalitário instaurado.

Vencedora da última edição da competição que nomeia a série, Katniss (novamente vivida pela ótima Jennifer Lawrence) agora convive com os efeitos de sua exposição: ao mesmo tempo em que tem pesadelos com o que presenciou durante os Jogos, vê sua vitória se transformar em símbolo de esperança e motivação para que o povo se levante contra o autoritarismo do Estado, aqui personificado por Snow, responsável pelo show que venda as pessoas para a realidade.

Por retomar o conceito de distopia e trabalhá-lo em uma aventura juvenil, Em Chamas já mereceria aplausos. Mas o filme vai além por tratar o tema com cuidado, construindo cenas que, ao mesmo tempo em que movimentam a trama, adicionando a ela mais camadas, são filmadas de forma tocante por Lawrence. O discurso de Katniss em homenagem a Rue é o melhor exemplo, principalmente pela coragem do texto e de Francis Lawrence por encerrá-la de forma chocante, com uma porta que não se fecha antes de vermos uma arma sendo disparada.

Essa é a grande evolução do longa em relação à aventura anterior: a paciência em trabalhar a ambientação (o momento político de Panem, os resultados da superexposição de Katniss e Peeta, a reapresentação dos personagens de Liam Hemsworth, Woody Harrelson e Leny Kravitz, além da introdução do fantástico Plutarch Heavensbee de Philip Seymour Hoffman) em detrimento da correria desenfreada que se instala no momento em que a nova edição dos Jogos começa. Nesse primeiro momento da narrativa, que dura pouco mais da metade da projeção, Lawrence faz o que já tinha dado certo com Gary Ross, abusando de enquadramentos (Plano Americano, Meio Primeiro Plano) que chamam atenção para os eficientes trabalhos de maquiagem e concepção dos figurinos, destaques técnicos da produção.

Curioso notar que, a fim de trabalhar a trama, Beaufoy e Arndt preparam terreno demais. Os Jogos em si, por sua vez, apesar de novamente empolgantes e de contarem com integrantes ainda mais bem resolvidos pelo roteiro, seguem sem surpreender até o final, quando uma virada recupera o fôlego da narrativa e a encerra com um dos melhores cliffhangers (artifício cada vez mais comum na Hollywood das franquias interligadas) da temporada.

Se o primeiro filme da série já possuía qualidades inegáveis, Lawrence, Beaufoy e Arndt mostram em Em Chamas que, assim como as flechas eletrificadas de Katniss, o céu é o limite para a franquia mais surpreendente dos últimos anos.

The Hunger Games: Catching Fire, Francis Lawrence, 2013 

2 comments:

joao said...

otimo filme, mas a parte dos jogos prpriamente dita me cansaram um pouco

Raquel Raposo said...

Uma belezura!!
Adorei!