Monday, January 20, 2014

Frozen - Uma Aventura Congelante

É curioso (e uma delícia) notar que Frozen – Uma Aventura Congelante, a animação mais incrível dos últimos anos, é uma obra que somente poderia ser gerada nos dias de hoje, época em que a compra da Pixar pela Disney foi completamente assimilada e John Lasseter se tornou uma das principais mentes criativas por trás das produções do estúdio. Apesar de ser essencialmente um filme de Princesas (assim mesmo com P maiúsculo, já que elas são uma das maiores commodities na casa do Mickey), a animação dirigida por Chris Buck e Jennifer Lee contém as qualidades que fizeram dos filmes da Pixar (e de Lasseter) o encanto que são: sensibilidade para com todas as idades e subversão de clichês.

O roteiro escrito por Lee (autora do também fantástico Detona Ralph) adapta A Rainha da Neve, uma das mais famosas fábulas de Hans Christian Andersen, nos clássicos moldes das animações musicais do estúdio. A trama se passa na pequena Arendelle, onde vivem as irmãs, e princesas, Elsa e Anna. Muito amigas na infância, as duas são obrigadas a viver separadas por conta de um acidente envolvendo o poder de manipular o gelo e a neve que Elsa possui. Após alguns anos, e com os pais mortos em um naufrágio, Elsa se prepara para se tornar a rainha de Arendelle quando um novo incidente envolvendo seus poderes, no qual acaba mergulhando o reino em um inverno profundo, faz com que ela decida fugir se isolando em uma montanha. Cabe a Anna ir à procura de sua irmã.

Frozen esbarra em todos os clichês possíveis dos filmes de Princesas, e isso por si só já não representaria um problema, já que como um subgênero construído sobre estereótipos, abraçar as convenções com fervor pode acabar dando muito certo. Entretanto, o que transforma o longa em um refresco no estilo é como ele se aproveita dos lugares-comuns para justamente subvertê-los em causa própria. O desenvolvimento dos personagens (como o papel do príncipe na narrativa) e a releitura do “ato de amor verdadeiro” (que antes acordou Branca de Neve e Aurora do sono profundo, e que agora é reintroduzido sob uma nova perspectiva) são exemplos irrefutáveis da inteligência de seu texto.

Não é só no roteiro que a animação é vitoriosa, porém. A direção de Buck e Lee é brilhante no modo como costura a narrativa em cima de simbologia e rimas visuais, como fractais, cores (vermelho: perigo, verde-escuro, roxo e preto: morte) e a metáfora do cabelo preso representando uma vida de segredo e aprisionamento que, apesar de simples, acaba gerando a mais bela cena da projeção, quando Elsa canta “Let it go” (aliás, as canções compostas por Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez são muito eficientes) enquanto libera as madeixas.

Essa acaba sendo, na verdade, o segredo do sucesso de Frozen (e que também era a essência do triunfo de Detona Ralph): o modo como ele consegue unir o tom dos clássicos Disney com a narrativa moderna de Lasseter e Cia., sendo ao mesmo tempo inteligente em sua construção estética e atraente para os olhos infantis dos pequenos, que ficam fascinados com poderes mágicos, trolls e o boneco de neve Olaf, e se identificam com a alegria de Elsa e Anna ao sentirem o cheiro de chocolate no ar.

OBS.: Fazem sentido as alegações acerca das semelhanças estilísticas entre Frozen e Enrolados já que, visualmente, os dois filmes parecem fazer parte do mesmo universo. Rapunzel e Eugene, inclusive, são vistos rapidamente em Arendelle no dia da coroação de Elsa. Confira aqui.

Frozen, Chris Buck e Jennifer Lee, 2013 ½

2 comments:

Raquel Raposo said...

"Oi! Eu sou Olaf! Eu gosto de abraços quentinhos." *-*

Lindo, lindo e lindo!!

Mas essa da Rapunzel eu não sabia...
Preciso ver Enrolados.

Ótimo texto.

joao said...

otimo texto
filme regular