Ao longo de seus 98 minutos, Philomena se revela uma experiência
decepcionante. Apesar de contar com ótimos ingredientes, como um bom elenco, um
diretor interessantíssimo e uma história que possuía linhas gerais tão
inacreditáveis que só podiam ser verdade, o longa parece se perder a partir do momento
em que permite que seu roteiro invista em um maniqueísmo perigoso e destrua
justamente o que deveria ser sua maior virtude, o seu caráter crítico.
A história era cinematográfica por
natureza: em 1952, a irlandesa Philomena Lee foi separada de seu filho Anthony,
ainda um bebê, que foi dado para adoção pelas freiras do convento em que a
jovem mãe vivia e trabalhava forçosamente. Cinco décadas depois, Philomena
resolve partir para os EUA em uma busca pelo paradeiro de Anthony, sendo acompanhada
pelo jornalista Martin Sixmith que, após perder seu antigo emprego, resolve
investir em “histórias de caráter humano” escrevendo sobre o caso.
Philomena
é um filme que se escora na figura feminina, dentro e fora da narrativa. Judi
Dench brilha como a protagonista, que é uma personagem fascinante em sua simplicidade
e que conquista simpatia e respeito por sua tridimensionalidade, muito bem retratada
pelo roteiro de Jeff Pope e Steve Coogan, que interpreta Sixmith. A fé quase inabalável
da mulher, que acredita e confia em Deus mesmo após ter sido traída por servas
Dele é fascinante, e enriquecida por sua interação com o cético jornalista. Nas
mãos de Stephen Frears, um cineasta cujo rigor e forma se apoiam geralmente no
retrato da humanidade dos homens e mulheres nas histórias que encena, Philomena
e Martin ganham contornos de veracidade cruciais para o envolvimento do
espectador.
Infelizmente, o mesmo roteiro que acerta
ao apostar todas as suas fichas em seus personagens centrais acaba cometendo
deslizes que comprometem e muito o resultado final. As alterações nos
acontecimentos reais não representaria maiores problemas se, por exemplo,
condensar as muitas viagens de Philomena aos Estados Unidos em apenas uma não
acabasse por forçar a protagonista a fazer todas as descobertas (e são muitas)
acerca do seu filho em um espaço de dois ou três dias, transformando a ida da
mulher à América em uma grande epifania.
O maior problema do texto de Pope e
Coogan e da direção de Frears, no entanto, é abraçar sem nenhum pudor o caminho
mais fácil, fazendo do belo caso de Philomena uma luta do bem contra o mal,
sendo esse um mal concreto, com grades, portões de ferro e freiras malvadas. Philomena possui uma realização maniqueísta
ao extremo, com direito a lições de moral e ensinamentos sobre valores cristãos
que impedem o espectador de tirar suas próprias conclusões acerca da fé da
protagonista e da falta dela por parte de seu amigo repórter. Se um dos dois é
muito mais feliz, seríamos tolos se não pensássemos da mesma forma.
Philomena,
Stephen Frears, 2013 ½
2 comments:
otimo texto. gosto do filme. acho leve, divertido e bonito. nada demais. e esses problemas nao me incomodaram
otimo texto. gosto do filme. acho leve, divertido e bonito. nada demais. e esses problemas nao me incomodaram
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