Vocal de apoio, backing vocal, backup
singer, não importa a nomenclatura. Profissão difícil, essa. Não que seja
difícil exercê-la, já que a voz, ao contrário de qualquer instrumento que se
precise aprender a tocar, é um dom e vem de berço. A dificuldade vem da
paciência de esperar a sua vez, de estar atrás do astro no palco, posicionado
entre o cantor e o baterista, sonhando em ser o/a chefe da comitiva, o/a cantor
principal, o/a pop star.
O belo documentário de Morgan Neville é,
entre outras coisas, sobre esse sentimento, sobre essas cantoras que convivem
com os flashes, tendo a esperança de que um dia eles espoquem para elas. A Um Passo do Estrelato é também um
filme sobre o amor pela música, e sobre fazer justiça para com profissionais
que colaboram para o sucesso de artistas e bandas, e nem sempre recebem os
créditos que lhes são de direito.
Já na abertura, Neville já entrega sua
proposta, em uma montagem interessante de fotos que destacam as backup singers
enquanto os astros aparecem com os rostos cobertos por tarjas. Essa tendência
vai seguir o longa até o final. Os astros (Sheryl Crow, Mick Jagger, Bruce
Sprigsteen, Stevie Wonder, além de imagens de arquivo de David Bowie, Michael
Jackson e Ray Charles) não são astros, são fãs, e as verdadeiras estrelas são
aquelas que serviram como parte do suporte que os fizeram atingir o sucesso.
A
Um Passo do Estrelato é um documentário que remonta a
trajetória das backing vocals negras através de depoimentos, construindo sua
narrativa em cima de relatos. Essa estrutura é parte do que faz do longa um
projeto tão apaixonado. Aqui, ao ouvir algumas das maiores cantoras dos EUA,
como Darlene Love, Merry Clayton (que fez história pela participação em “Gimme
Shelter”, dos Rolling Stones), Tata Veja e Lisa Fischer, Neville revela mais
uma faceta dessas mulheres, além da voz estupenda: seus dotes como contadoras
de histórias.
É através delas que o espectador entra
em contato com a vida, com os bastidores, com as alegrias e frustrações das
artistas, histórias que descortinam a alegria de se ter trabalhado com Ray
Charles e Michael Jackson, e a decepção de ter sua carreira solo engavetada
pela gravadora, mesmo após um Grammy.
O cineasta as ouve, e através dessas
histórias ora engraçadas, ora tristes, A
Um Passo do Estrelato consegue chegar a algum lugar.
Esse lugar, dentro do espectador, fica
entre o prazer de ouvir aquelas vozes, a tristeza pelo fracasso de algumas na
busca pelo sucesso (que bateu à porta apenas uma vez) e o medo de as mais
novas, como Judith Hill (que ficou famosa após cantar no tributo à memória de
Michael Jackson, em 2009), acabarem encontrando as mesmas dificuldades pelas
quais Fischer, Vega e Clayton passaram na geração anterior.
E Morgan Neville tem responsabilidade
direta em transformar essas mulheres em heroínas, em símbolos da musicalidade e
da paixão pelos palcos, em dar a essas divas a chance, mesmo que um pouco tardia,
de experimentarem o sucesso novamente, de sentirem o gosto de serem estrelas e
de ouvirem suas vozes com o destaque merecido.
20 Feet from Stardom, Morgan Neville, 2013 ½
1 comment:
Amei o documentário!
É um sonho ter uma dessas vozes. E eu pensei: "por que não nascia lá e fiz parte daqueles corais?"
Ótimo texto.
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