Saturday, April 12, 2014

Capitão América 2 - O Soldado Invernal

Existe um grande obstáculo ao se adaptar as aventuras do Capitão América para as telas em pleno Século 21 e tentar vende-las para públicos para além da fronteira dos Estados Unidos. Tal dificuldade é gerada justamente por aquela que é a característica mais marcante da personalidade de Steve Rogers, e por consequência, sua essência enquanto personagem. Criado com a intenção de ser reconhecido como símbolo do patriotismo norte-americano durante a Segunda Guerra (o primeiro gibi do herói data de 1941), o Sentinela da Liberdade, aquele que veste a bandeira dos EUA, representa ideais ufanistas antigos e ultrapassados.

Lançado em 2011, Capitão América: O Primeiro Vingador escapou da armadilha justamente por ser um filme de origem. Dirigido por Joe Johnston, o longa se passava nos anos 40 e tinha como sua maior qualidade justamente o fato de exibir, antes de o Capitão partir para viver sua aventura, sua imagem como estímulo para os soldados nos campos de batalha contra o nazismo. Trata-se de um filme ambientado em um universo bem mais inocente, como o próprio perfil do herói, do que os tempos atuais e talvez por isso mesmo (aliado, logicamente, ao inegável talento de Johnston para conduzir a narrativa por esse viés) seja tão eficiente.

O Soldado Invernal, sua sequência, não pode se dar ao luxo de alinhar sua premissa ao perfil dos primórdios do Supersoldado, mas nem por isso deixa de encontrar um caminho vitorioso para sua narrativa. A trama, escrita por Christopher Markus e Stephen McFeely (responsáveis pelos textos de O Primeiro Vingador e do ótimo Thor: O Mundo Sombrio) resolvem o impasse acerca dos rumos da história escolhendo o caminho mais lógico: o Capitão América não tem espaço no mundo de hoje.

Esse argumento consegue a proeza de retirar a sisudez (a cena em que Rogers conversa sobre suas experiências com Natasha, a Viúva Negra, no carro é um primor) ao mesmo tempo em que confere ao filme um senso de unidade, fazendo com que tanto as digressões (a melhor delas, o caderninho no qual Steve anota os ícones da cultura pop que não acompanhou durante o tempo em que ficou congelado) quanto a trama principal girem em torno do mesmo tema.

Com isso, o mote da inadequação da figura do líder dos Vingadores nos dias atuais acaba gerando em Capitão América 2 um tom de filme de espionagem setentista, opção narrativa (e estética, vale apontar) do roteiro e dos diretores Anthony e Joe Russo endossada pela presença de Robert Redford, um dos símbolos dos filmes de conspiração, no elenco. Redford, em um papel fundamental dentro da trama, acaba por dar estofo a um longa que já mereceria aplausos por cenas como a que Nick Fury explica um projeto ultrassecreto para o Capitão que, em seus conceitos morais inabaláveis, recebe tudo como uma afronta aos direitos de liberdade dos cidadãos.

Os outros personagens que pintam com destaque na tela acabam por reforçar a ideia de que O Soldado Invernal é um longa sobre não pertencer a lugar algum, mas também fazem com que a expansão do universo da Marvel no cinema seja percebida de forma latente. O Falcão de Anthony Mackie, estreante na franquia, e a Viúva Negra, braços direitos do protagonista, o conectam com o presente enquanto Fury e a cara nova (pelo menos para os não-iniciados) do longa, o próprio Soldado Invernal que nomeia a fita, são elos com o passado de Steve e suas memórias mais antigas, que o levam a investiga-las (o que leva a uma participação divertidíssima de Toby Jones) para entender o clima de traição que o cerca agora.

O Capitão América pode ainda estar se sentindo um perdido em sua nova realidade, mas suas aventuras já encontraram o seu lugar e o caminho que as levam direto ao coração dos fãs.

Captain America: The Winter Soldier, Anthony & Joe Russo, 2014 

1 comment:

Raquel Raposo said...

Achei o filme excelente!
Ótimo texto.