Jovem
Aloucada (que estreou no Brasil com dois anos de atraso) sente
falta de um certo nível de disciplina, de rigor, que quase compromete a obra. A
essa carência, soma-se um ar de indecisão da diretora acerca das opções possíveis
para a abordagem de sua narrativa. O filme se divide em capítulos, utiliza
narração em off, exibe uma estética de internet durante toda sua duração, e
chega até a emular a secura do Novo Cinema Romeno e dos dramas mexicanos
recentes em seus minutos finais. O que poderia se tornar um grande problema
acaba, no entanto, sendo estranhamente coerente com a sua protagonista e o tom
de seus dramas.
Escrita pela diretora Marialy Rivas, em
parceria com Pedro Peirano, Sebastián Sepúlveda e Camila Gutiérrez, a trama
acompanha a jovem Daniela, vinda de família abastada, na saga de descoberta de
sua sexualidade. Expulsa de um colégio religioso, após ter feito sexo com um
aluno, a adolescente cede aos pedidos da mãe evangélica e vai trabalhar em uma
TV cristã. Lá, se envolve com o religioso Tomás e com a operadora de câmera
Antonia.
Para fugir um pouco da pressão religiosa
de sua casa, Daniela cria um blog (sua identidade virtual nomeia também o
longa-metragem), que utiliza como confessionário e no qual conta suas aventuras
sexuais. Suas postagens e os comentários de seus seguidores, além de darem voz
aos conflitos entre desejo e fé da protagonista, servem também como linha de
raciocínio para o texto e a direção de Rivas desenvolverem, em sua narrativa
rápida e tresloucada (durante as confissões de Daniela sobre seus desejos, o espectador
assiste a uma profusão de genitálias em cena), um reflexo da realidade que
margeia todo o filme.
De maneira proposital ou não, o fato é
que Jovem Aloucada é um filme sobre
a vontade de uma adolescente de se livrar das amarras de sua casa, de partir
para a libertação, dando as costas para o conservadorismo. Daniela (bem vivida
por Alícia Rodríguez) nada mais é que um microcosmo da própria sociedade do
Chile, um país que se livrou de um regime militar de quase vinte anos e que hoje,
com a liberdade ainda jovem (a ditadura chilena acabou em 1990), ainda aprende
a caminhar com as próprias pernas em meio a tantas amarras que ficaram como
herança.
Por isso que as variações estéticas e
narrativas (que vão do videoclipe à dureza de um Cristian Mungiu em seus
minutos finais) incomodam pouco em Jovem
Aloucada. A vontade de sua protagonista, e de sua nação, de se libertar e
viver a vida que quiser olhando apenas para a frente (e para dentro,
evidentemente) compensa qualquer excesso de impetuosidade.
Joven
y Alocada, Marialy Rivas, 2012 

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