Wednesday, April 16, 2014

Jovem Aloucada

Jovem Aloucada (que estreou no Brasil com dois anos de atraso) sente falta de um certo nível de disciplina, de rigor, que quase compromete a obra. A essa carência, soma-se um ar de indecisão da diretora acerca das opções possíveis para a abordagem de sua narrativa. O filme se divide em capítulos, utiliza narração em off, exibe uma estética de internet durante toda sua duração, e chega até a emular a secura do Novo Cinema Romeno e dos dramas mexicanos recentes em seus minutos finais. O que poderia se tornar um grande problema acaba, no entanto, sendo estranhamente coerente com a sua protagonista e o tom de seus dramas.

Escrita pela diretora Marialy Rivas, em parceria com Pedro Peirano, Sebastián Sepúlveda e Camila Gutiérrez, a trama acompanha a jovem Daniela, vinda de família abastada, na saga de descoberta de sua sexualidade. Expulsa de um colégio religioso, após ter feito sexo com um aluno, a adolescente cede aos pedidos da mãe evangélica e vai trabalhar em uma TV cristã. Lá, se envolve com o religioso Tomás e com a operadora de câmera Antonia.

Para fugir um pouco da pressão religiosa de sua casa, Daniela cria um blog (sua identidade virtual nomeia também o longa-metragem), que utiliza como confessionário e no qual conta suas aventuras sexuais. Suas postagens e os comentários de seus seguidores, além de darem voz aos conflitos entre desejo e fé da protagonista, servem também como linha de raciocínio para o texto e a direção de Rivas desenvolverem, em sua narrativa rápida e tresloucada (durante as confissões de Daniela sobre seus desejos, o espectador assiste a uma profusão de genitálias em cena), um reflexo da realidade que margeia todo o filme.

De maneira proposital ou não, o fato é que Jovem Aloucada é um filme sobre a vontade de uma adolescente de se livrar das amarras de sua casa, de partir para a libertação, dando as costas para o conservadorismo. Daniela (bem vivida por Alícia Rodríguez) nada mais é que um microcosmo da própria sociedade do Chile, um país que se livrou de um regime militar de quase vinte anos e que hoje, com a liberdade ainda jovem (a ditadura chilena acabou em 1990), ainda aprende a caminhar com as próprias pernas em meio a tantas amarras que ficaram como herança.

Por isso que as variações estéticas e narrativas (que vão do videoclipe à dureza de um Cristian Mungiu em seus minutos finais) incomodam pouco em Jovem Aloucada. A vontade de sua protagonista, e de sua nação, de se libertar e viver a vida que quiser olhando apenas para a frente (e para dentro, evidentemente) compensa qualquer excesso de impetuosidade.

Joven y Alocada, Marialy Rivas, 2012 

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