Apesar
de ter chegado ao Brasil com dois anos de atraso, 7 Caixas chega com a fama de ser o maior sucesso do cinema
paraguaio, um fenômeno que, além do público no âmbito doméstico (250 mil
espectadores, fantástico para o Paraguai, que tem aproximadamente 7 milhões de
habitantes e uma ínfima produção cinematográfica), conquistou as plateias dos
festivais e circuitos por onde foi exibido com seu ritmo frenético, seus
protagonistas carismáticos e a audácia de criticar a América fazendo uso de
convenções tipicamente hollywoodianas.
Tais
lugares-comuns do cinema norte-americano já se fazem presentes na trama, e no
uso do MacGuffin como artifício (muito eficiente, diga-se de passagem) para
fazer os personagens se cruzarem e para revelar em sua direção de arte e
figurinos uma estética que se assemelha aos favela
movies.
O
texto, escrito pelos diretores Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori em
parceria com Tito Chamorro, acompanha Victor, jovem carregador do Mercado 4,
uma feira de rua e camelódromo em Assunção, que para conseguir dinheiro para
comprar um celular com câmera (o menino é fascinado pela imagem e pelo cinema),
aceita como serviço carregar sete caixas para um lugar a ser determinado. Em
pouco tempo Victor passa a ser perseguido por uma espécie de quadrilha liderada
por outro carregador, que precisa do dinheiro do pagamento para comprar
remédios para seu filho doente.
7 Caixas
não tem medo de explicitar suas influências, lançando mão de diversas personas
e clichês dos filmes policiais. Do vilão rico que mal aparece ao rapaz bem
intencionado que é o cara errado na hora errada, está tudo ali. Maneglia e
Schembori, no entanto, se utilizam da previsibilidade das revelações do seu
texto para, aos poucos, demonstrar sua irreverência, como no momento em que um
personagem rasga uma nota de cem dólares, e coragem, ao revelar o conteúdo das
caixas, seu MacGuffin, cedo na narrativa (momento que acaba se tornando o
grande destaque do longa).
A
partir daí, o que era tema marginal torna-se central e os diretores passam a
usar a trama para comentar a situação de sua nação enquanto antiquado emulador
cultural. O celular que é sonho de consumo de vários personagens é extremamente
antigo, mas é encarado como top de linha, naquele mundo em que se usam carrinhos
de mão em perseguições e que as TVs que o protagonista tanto admira ainda são
aquelas de tubo. O glamour do primeiro mundo que chega ao terceiro e
encanta seus habitantes é nostalgia entre os mais abastados.
E
o herói daquele universo, que tanto sonhou ser galã e estrela de cinema, acaba
estrelando um filme de ação da vida real com tudo que tem direito, mesmo que seja um filme do Paraguai. Mas quem se importa se os bandidos são pés-rapados,
sua princesa é uma plebeia e se ele mesmo não acaba a história de pé? Se o que
vale é se ver e ser visto na caixa preta que transmite sonhos chamada televisão,
Victor pode se considerar uma pessoa feliz.
7 Cajas,
Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori, 2012
½

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