Desde
a confirmação no comando de mais uma versão americana de Godzilla nas telas, Gareth Edwards parecia o nome ideal. Seu
primeiro e púnico longa-metragem até então, Monstros, foi uma espécie de batismo de fogo para o diretor, que
provava talento no subgênero filme-catástrofe ao mesmo tempo em que conseguia dialogar
com o espectador ao criar uma sensação de maravilhamento (apesar do baixo
orçamento) que é inerente a qualquer produção bem-sucedida no estilo.
Na
história idealizada por David Callaham e que ganhou forma no roteiro de Max Borenstein,
Joe Brody passa a criar o filho sozinho após perder a esposa em um desastre na
usina em que ambos trabalhavam no Japão. Anos se passam e Ford Brody, agora casado,
pai e soldado do exército americano, se vê forçado a voltar ao território
japonês (e reviver lembranças dolorosas) para libertar seu pai, preso após
investigar e invadir a usina que vitimou sua mulher.
Em
uma nova busca, agora acompanhado por um relutante Ford, Joe acaba sendo
descoberto novamente pelas autoridades, mas pai e filho testemunham o
desabrochar de uma gigantesca e horrenda criatura, chama MUTO por especialistas
e militares. Essa é uma das maiores qualidades do novo Godzilla, como o diretor demora a exibir as suas criaturas,
estabelecendo antes seus homens e mulheres. Edwards, que já tinha demonstrado
cuidado com o elemento humano em seu filme de estreia, dessa vez se apoia em um
ótimo elenco (que tem Aaron Taylor-Johnson bancando o herói e Ken Watanabe,
Bryan Cranston, Juliette Binoche e Elizabeth Olsen conferindo peso e dignidade
aos coadjuvantes) para filmar um roteiro que vai pelo mesmo caminho, se
aproximando do clássico de 1954 e renegando a gratuidade impessoal das
destruições da abordagem de Roland Emmerich.
O
diretor demora a mostrar Godzilla por completo, que surge das profundezas como
uma espécie de agente da natureza, para derrotar os MUTOs (um segundo, uma
fêmea, aparece) e assim restaurar o equilíbrio do planeta. O diretor filma seu
protagonista com amor adolescente, exibindo lentamente pés, cauda e mãos (seu
design é igual à do filme original) da criatura antes de, com toda a pompa, coloca-la
para gritar.
Essa
paixão aproxima o cineasta de Guillermo Del Toro, que consegue aliar um
cuidado com a trama, mesmo que básico, ao respeito de fã para fã, o que filma e
o que assiste. Godzilla cercado pela fumaça da destruição ou soltando o raio de
sua bocarra são”fan services” que funcionam como a cena da espada em Círculo de Fogo, de Del Toro: ápices
que jogam com o emocional da plateia e a fazem ansiar por mais, que vem em
cenas de beleza estética absurda, como aquela em que Ford e seus paraquedistas
saltam da estratrosfera, para o desconhecido que os aguarda em terra firme. O
público, devido ao amor por filmes de monstros compartilhado com Edwards,
acredita em seu comandante e se joga junto, sem medo algum.
Godzilla,
Gareth Edwards, 2014 

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