Eu
me incomodo bastante, para não dizer que não gosto, quando um filme tenta a
todo custo buscar as lágrimas do espectador. A pieguice exacerbada geralmente
esconde uma trama mal-ajambrada que não conseguiria sustentar apenas com sua
trama o choro do seu público. No entanto, é difícil não encarar A Culpa é das Estrelas, longa que é
candidato a se tornar um dos campeões dos filmes mais melosos dos últimos anos,
de um jeito diferente: de alguma forma, o longa de Josh Boone é bem bonito
quando quer, e o diretor parece acreditar e amar seus personagens de verdade,
ao compor quadros que evocam os clichês do romance não para revê-los ou tirar
sarro, mas para reverenciá-los como uma espécie de sonho que todos gostariam de
viver.
A
trama, adaptada por Scott Neustadter e Michael H. Weber a partir do best-seller
de John Green (e mesmo sem ter lido a obra de Green, posso imaginar o cuidado
dos roteiristas para com a fidelidade ao material original, pois ouvi pessoas
literalmente recitando falas dos personagens durante a projeção) acompanha
Hazel, jovem adulta que luta contra um câncer de tiroide que se apoderou de
seus pulmões desde os 13 anos de idade e cuja monótona e triste vida muda quando
ela conhece Augustus, apelidado de Gus, rapaz que há um ano venceu um câncer,
mas que perdeu parte de uma perna por conta da doença. Juntos, os dois vão
descobrir que a vida é para ser vivida, enquanto podemos vivê-la.
Se
a situação dos personagens e o modo como eles se conhecem já inspira a simpatia
do público (sentimento que precisa ser evocado a todo instante em produções
dessa natureza), a atuação do casal principal apenas corrobora. Apoiados por bons
coadjuvantes (Que tem Laura Dern e Michael Trammell como os pais de Grace e o
ótimo Nat Wolff como o melhor amigo de Gus, Isaac, além da participação
especial de Willem Dafoe durante a passagem da narrativa por Amsterdã), Shailene
Woodley e Ansel Elgort (dois astros em ascensão recente) conseguem dar vida ao
casal principal demonstrando grande sintonia, e Shailene é particularmente
feliz em compor Hazel, uma personagem que tinha tudo para ser um fardo, em uma
das personagens mais apaixonantes da temporada, com seu sorriso sempre prestes
a desabar.
Josh
Boone se utiliza da trama, da interação entre o casal principal e da crença de
que toda a pieguice funcionaria para tentar fazer um pouco mais do que apenas
um “romance de estropiados”. Ao filmar clichês dos mais batidos, como mãos que
se tocam sem querer, personagens que se conhecem ao se esbarrarem e passeios de
barco ao entardecer, o diretor se aproxima da experiência bem-sucedida que fora
Diário de uma Paixão, de 2004,
também adaptado de um romance de sucesso (o livro homônimo de Nicholas Sparks)
e no qual Nick Cassavetes enxergou o potencial da trama para ser tratada como
resumo do gênero, e foi muito eficiente na empreitada.
Entretanto,
A Culpa é das Estrelas aparenta
estar um pouco mais preocupado com a identificação do espectador-leitor com a
obra do que Diário de uma Paixão. Boone
filma com respeito exagerado momentos concebidos pelos roteiristas como
verdadeiros presentes aos fãs do sucesso literário (não só cenas, como detalhes
que embelezam os personagens como a maneira carinhosa com que Gus chama Hazel
de “Hazel Grace”, ou os enfraquecem, como a metáfora do cigarro),
principalmente os mais jovens, ávidos por semelhança e fidelidade. Nesse
prisma, destaca-se o final, de longe o momento mais emblemático e que, apesar
dos problemas narrativos evidentes (não vejo razão plausível em designar a
alguém distante uma tarefa tão pessoal), na cabeça dos realizadores (e dos
aficionados) simplesmente precisava estar ali, e daquele jeitinho.
Esses
deslizes compõem a inconstância do longa, e representam seu grande problema,
que é a falta de coragem de, a partir de certo momento, se assumir como uma
obra de personalidade forte, e que estuda a fundo os lugares-comuns de um
gênero que funciona de maneira fabulosa quando se aproveita bem deles.
Independente disso, A Culpa é das
Estrelas é mesmo um belo filme, e um bem-construído romance adolescente
entre personagens bastante adoráveis. Eu até gostaria de ver um pouco da
coragem do casal principal nas mãos que conduziram a obra, mas o mundo não é
uma fábrica de realização de desejos.
The Fault in our Stars, Josh Boone, 2014 

1 comment:
Simplesmente lindo, "devorei" o livro em cinco dias, rs e corri para ver, exatamente igual, sem tirar nem por, tanto o livro qto o filme me fizeram ficar de cara inchada de tanto chorar. Belo texto.
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