A Bela Adormecida
é, entre os clássicos, um dos maiores responsáveis pela imagem das animações da
Disney, e por consequência, pela consolidação das Princesas enquanto commodity.
Tudo isso devido, claro, às suas inegáveis qualidades, mas também a um motivo
ainda mais determinante: o filme de 1959 é o conto de fadas mais genuíno. Nele,
a princesa tem o nome dos primeiros raios de sol da manhã, seus pais são justos
e bondosos, e a bruxa má, sem que se explique o porquê, é bastante má, até no
nome.
Não
se pode pensar que Malévola,
reimaginação do conto (escrito pelos irmãos Grimm, revisitado por Charles
Perrault, transformado em balé por Tchaikovsky e do balé para a animação) vá
pelo mesmo caminho, por pelo menos duas razões: primeiro, o papel central da
vilã como fio condutor, explicitado pelo título da produção e pelo rosto de
Angelina Jolie (que claramente se diverte bastante no papel) estampando todos
os cartazes, protagonismo esse que praticamente implora por um desenvolvimento
maior de suas motivações. E também porque o longa-metragem faz parte da
malfadada tradição recente de reinvenções das histórias infantis em live action, que geralmente mostram que
as coisas não são bem como víamos quando crianças.
A
trama, escrita por Linda Woolverton, é de uma audácia que surpreende, passando
do protocolo a uma virada inesperada para quem estava acostumado com os
preguiçosos textos de A Garota da Capa
Vermelha e Branca de Neve e o
Caçador, mesmo quando caminha no terreno perigoso da revisão. Em alguns
momentos, Malévola é um longa que se
debruça (talvez até por tempo demais) nos porquês dos acontecimentos que sucedem
o nascimento de Aurora. Um prólogo de criatividade questionável quase faz com que
o longa se perca com suas opções (visual e narrativa) que o aproximam do fiasco
Oz: Mágico e Poderoso.
Em
pouco tempo, porém, a história parece entrar nos eixos com um equilíbrio
delicado entre momentos idênticos aos que encantaram as crianças em 1959 (a
festa de batismo de Aurora, com o presente das fadas e a maldição que Malévola
lança sobre o bebê) e outros que mostram que Woolverton é uma roteirista de
personalidade (a ideia de que as fadas não tinham a menor ideia de como criar
Aurora, e a atuação de vilã nas sombras da infância da menina que, mais velha,
acredita que a outrora bruxa é a sua fada madrinha, o que não deixa de ser uma
meia-verdade, considerando o início da projeção).
A
direção de Robert Stromberg atua preenchendo lacunas aonde o texto (de longe o
grande destaque da produção) não consegue ir. O cineasta, que faz a sua estreia
(antes designer de produção, elaborou a concepção do universo de seu debute se
inspirando nos visuais de alguns de seus trabalhos anteriores, como Avatar, Alice no País das Maravilhas além do já falado Oz), é hábil ao elaborar planos que se assemelham visualmente à
animação clássica, e ao conceber solenidade ao momento do “ato de amor
verdadeiro”, única forma de acordar a bela adormecida (vivida por Elle Fanning
com a graciosidade que sempre marcou sua carreira) de seu sono profundo e que (assim
como em Frozen) mostra às novas
gerações que outras formas de amor podem ser muito mais bonitas do que os
lábios de um príncipe encantado.
E
que o amor sempre será o verdadeiro responsável pelo final feliz, com ou sem
beijo na boca.
Maleficent,
Robert Stromberg, 2014 

3 comments:
Belo texto para um belo filme...
disparada a melhor reimaginação dos clássicos. a cena do principe não querendo beija-la é de uma ousadia hilária. aliás o roteiro do filme é surpreendentemente bom.
Lindo, lindo e lindo!!
Sou muito fã da animação de 59, e amei o filme.
Embora tenha chorado horrores no momento do true love kiss, a melhor cena do longa, disparada, é
o momento que ela chega no batizado e a sombra vai subindo, exatamente da mesma forma que acontece na animação. Parece que eles recortaram da animação e colaram no filme.
Lindo demais! :')
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