Apesar
de se tratar da adaptação de um romance, No
Limite do Amanhã, de Doug Liman (diretor de trabalhos eficientes, e
profissional muitas vezes subestimado) talvez seja o filme que melhor imita, em
sua estética de repetição, o espírito dos videogames, principalmente os
clássicos da era dos 8 e 16-bits, época de jogos tão difíceis que os gamers apenas aprendiam como passar de
certas fases após morrerem incontáveis vezes e memorizarem os desafios.
Mais
surpreendente ainda é o tom de sátira política do texto de Christopher McQuarrie
e os irmãos Jez e John-Henry Butterworth, principalmente em sua primeira
metade, e como a história vai se transformando aos poucos em uma reflexão sobre
a guerra. A trama, ambientada em um futuro não muito distante, acompanha uma
invasão alienígena à Terra, combatida sem sucesso pelos exércitos dos países ao
redor do mundo.
Quando
o major Bill Cage (Tom Cruise), assessor de imprensa responsável por promover a
guerra e que nunca esteve na linha de frente de combate algum, é convocado a
registrar ao vivo a batalha que se dará na França, ele tenta chantagear o
general (Brendan Gleeson) responsável pela convocação, é acusado de deserção e
posto na posição de soldado no pelotão do sargento Farell (Bill Paxton). Em
cinco minutos de combate na Normandia, Cage acaba morrendo ao conseguir
explodir um alienígena, mas desenvolve o poder de voltar no tempo e viver
aquele dia novamente, contando com a ajuda da veterana Rita (Emily Blunt), que
o treina e o convence da possibilidade da vitória.
Agora,
toda vez que morre, Cage acorda no batalhão e tem a chance de batalhar de novo
uma versão futurista do “Dia D”. A essa premissa, soma-se um bem resolvido
paralelismo com a Segunda Guerra (a importância do território francês, o próprio
Dia D) que dá a No Limite do Amanhã
uma esperteza aliada à diversão descomprometida que faz falta aos blockbusters
de hoje em dia. Ao acionar seu botão de Continue, Cage reencontra a batalha
(uma versão futurística da sequência de abertura de O Resgate do Soldado Ryan) sem que nada esteja diferente. Nessa
hora, Liman e seus roteiristas parecem perguntar: são os filmes de guerra, ou
as guerras em si, que são todas iguais?
Além
de emular os games em sua estética, e de mesclar filmes tão distintos como Feitiço do Tempo e Tropas Estelares no desenvolvimento de sua trama, o longa surge
como um dos longas mais originais do ano justamente por ainda conseguir fundir
outros filmes através do desenvolvimento dos personagens (os ares Ripley de
Rita, o canalha transformado em herói como em Distrito 9) e da concepção visual dos soldados (exoesqueletos que
lembram Matrix Revolutions, Blunt
carregando uma espada gigante que se assemelha ao RPG Final Fantasy), que transforma a experiência de assistir ao sci-fi
de Doug Liman também em um exercício de reconhecimento de referências.
E
mesmo que não consiga manter o tom satírico (como Verhoeven fez mais
incisivamente no já citado Tropas
Estelares) ou investir em um desfecho mais corajoso (o romance
mal-ajambrado que toma conta do terceiro ato quase compromete o que fora
construído até então), No Limite do
Amanhã é sim um belo sci-fi, politizado, contestador (sua inspiração na
dinâmica dos jogos virtuais pode ser encarado como uma crítica às guerras de
hoje em dia, feitas com drones
controlados por computadores e joysticks) e que, no caminho, ainda consegue ser
extremamente empolgante. Não é todo dia que se vê algo assim.
Edge of Tomorrow, Doug Liman, 2014
½

1 comment:
não me chamou atenção. um filem de guerra que me lembra contra o tempo é algo que definitivamente não me anima, mas quem sabe
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