Não
existe confronto algum que justifique o subtítulo da sequência de Planeta dos Macacos: A Origem. Sim, as
cenas de batalha existem (e são muitíssimo bem filmadas por Matt Reeves, que
entendeu o 3D como poucos atualmente), mas em momento algum a narrativa é
pautada pela ação, que vem em doses cavalares apenas quando os subtextos
propostos pela trama já foram todos expostos. Em seus 130 minutos, Planeta dos Macacos: O Confronto é um
retrato de tudo que faz do homem o que de pior já aconteceu ao planeta, uma
metáfora para conflitos que se encerraram (as Guerras Mundiais, o Vietnã) ou
que estão a todo vapor (a eterna cisão Israel x Palestina), mas que poderiam
nunca ter ocorrido se os dois lados tivessem percebido, antes da primeira gota
de sangue pingar, o quanto somos iguais, todos sem exceção, em nossa gigantesca
estupidez.
A
trama, escrita por Mark Bomback, Rick Jaffa e Amanda Silver tem muito mais em
comum com a série original do que com A
Origem, que também foi escrito por Jaffa e Silver, ao exibir o embrião da
gigantesca civilização símia (que viria a escravizar os humanos em um futuro
não muito distante) vivendo em paz em uma floresta nos arredores do mundo
urbano. Ambientado 15 anos após os acontecimentos do filme anterior, O Confronto traz um retrato de macacos
que, claramente evoluídos, se aproveitam dos primeiros passos independentes
para criarem uma mini sociedade pautada pelo respeito e pacifismo, suportados
por um código de honra básico (“macacos não matam macacos”), mas que é
eficiente em sua simplicidade.
Paralelamente
à expansão da nação liderada por César (Andy Serkis), em eventos mostrados no
prólogo, a humanidade enfrentou a epidemia de uma doença criada em laboratório
apelidada “Gripe Símia” que dizimou a maior parte da população. Macacos e
homens (os poucos que sobraram nas redondezas, encabeçados por Gary Oldman,
Keri Russell e Jason Clarke) vivem distantes uns dos outros, até que um grupo
de pessoas adentra a floresta com o intuito de pôr em funcionamento uma represa
ali situada e com isso religar a energia elétrica.
A
convivência forçada, mas pacífica, aos poucos vai se deteriorando. César ganha
a oposição de Koba, antes um aliado, mas que se rebela devido ao seu ódio,
enquanto entre os humanos as mesmas diferenças de opiniões aparecem. Esta é a
principal qualidade do longa de Reeves, diretor adepto da prática de perscrutar
personagens e suas motivações (vide o belo Deixe-Me
Entrar e o roteiro de Caminho Sem
Volta), e que aqui resolve distribuir reflexões acerca do preconceito e da
tolerância em doses pesadas. O choque
entre as ideologias pacifista e belicista, entre símios e humanos é o que move
a narrativa.
A
violência ocorre devido ao medo, do que não se conhece, do que não se entende
mas que, na verdade, está mais perto da própria realidade do que parece, ainda
mais após a sociedade símia mostrar sinais de estar corrompida por intrigas e
mentiras, corrupções tipicamente humanas, e que naquela organização social de
códigos tão avançados quanto primitivos os aproxima ainda mais dos homens e
mulheres que acabaram escravizados como visto em Planeta dos Macacos, filme de 1968 dirigido por Franklin J.
Shaffner que inaugurou a franquia, poucas vezes tão incisiva quanto neste
exemplar.
Parte
do que deixa o humanismo de Planeta dos
Macacos 2 tão latente, e faz com que o espectador se importe tanto com o
destino dos personagens é o como a trama se desenrola, em especial no seu
primeiro ato. Após imagens aterradoras de um presente trágico para as pessoas
que antes eram os principais habitantes da Terra, tem-se um vislumbre da
comunidade formada por várias espécies de macacos sob o comando de César (e é
aí que os efeitos visuais e o design de produção realmente se sobressaem, pela
verossimilhança). Matt Reeves escolheu por uma abordagem quase silenciosa que é
chocante por se tratar de um blockbuster.
São
vários minutos durante os quais presenciamos seu modo de viver, como se
alimentam, os gestos e poucas palavras através dos quais se comunicam, e o
equilíbrio estabelecido por uma paz prestes a ser quebrada, em um vindouro
terceiro ato que impressiona não só pela execução cuidadosa do combate final (com
Reeves estabelecendo muito bem a sua mise-en-scène),
mas pela melancolia suscitada por ver materializada na tela o que já estava
claro que ia acontecer, e o que estamos cansados de ver nos telejornais.
Se
somos todos macacos ou se eles são todos homens não importa aqui. O que fica de
lição após o abraço final, e por sabermos o que está por vir, é que, enquanto
continuarmos apontando armas para nossos semelhantes, somos mesmo é um bando de
idiotas.
Dawn of the Planet of the Apes, Matt Reeves, 2014
2 comments:
macacos não matam macacos
os humanos devem ter se destruido
chorei com essas duas frase
filmaço, divertido e reflexivo
Adorei o filme!!! Perfeito!!
Bom texto
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