Sunday, July 27, 2014

Planeta dos Macacos: O Confronto

Não existe confronto algum que justifique o subtítulo da sequência de Planeta dos Macacos: A Origem. Sim, as cenas de batalha existem (e são muitíssimo bem filmadas por Matt Reeves, que entendeu o 3D como poucos atualmente), mas em momento algum a narrativa é pautada pela ação, que vem em doses cavalares apenas quando os subtextos propostos pela trama já foram todos expostos. Em seus 130 minutos, Planeta dos Macacos: O Confronto é um retrato de tudo que faz do homem o que de pior já aconteceu ao planeta, uma metáfora para conflitos que se encerraram (as Guerras Mundiais, o Vietnã) ou que estão a todo vapor (a eterna cisão Israel x Palestina), mas que poderiam nunca ter ocorrido se os dois lados tivessem percebido, antes da primeira gota de sangue pingar, o quanto somos iguais, todos sem exceção, em nossa gigantesca estupidez.

A trama, escrita por Mark Bomback, Rick Jaffa e Amanda Silver tem muito mais em comum com a série original do que com A Origem, que também foi escrito por Jaffa e Silver, ao exibir o embrião da gigantesca civilização símia (que viria a escravizar os humanos em um futuro não muito distante) vivendo em paz em uma floresta nos arredores do mundo urbano. Ambientado 15 anos após os acontecimentos do filme anterior, O Confronto traz um retrato de macacos que, claramente evoluídos, se aproveitam dos primeiros passos independentes para criarem uma mini sociedade pautada pelo respeito e pacifismo, suportados por um código de honra básico (“macacos não matam macacos”), mas que é eficiente em sua simplicidade.

Paralelamente à expansão da nação liderada por César (Andy Serkis), em eventos mostrados no prólogo, a humanidade enfrentou a epidemia de uma doença criada em laboratório apelidada “Gripe Símia” que dizimou a maior parte da população. Macacos e homens (os poucos que sobraram nas redondezas, encabeçados por Gary Oldman, Keri Russell e Jason Clarke) vivem distantes uns dos outros, até que um grupo de pessoas adentra a floresta com o intuito de pôr em funcionamento uma represa ali situada e com isso religar a energia elétrica.

A convivência forçada, mas pacífica, aos poucos vai se deteriorando. César ganha a oposição de Koba, antes um aliado, mas que se rebela devido ao seu ódio, enquanto entre os humanos as mesmas diferenças de opiniões aparecem. Esta é a principal qualidade do longa de Reeves, diretor adepto da prática de perscrutar personagens e suas motivações (vide o belo Deixe-Me Entrar e o roteiro de Caminho Sem Volta), e que aqui resolve distribuir reflexões acerca do preconceito e da tolerância em doses pesadas.  O choque entre as ideologias pacifista e belicista, entre símios e humanos é o que move a narrativa.

A violência ocorre devido ao medo, do que não se conhece, do que não se entende mas que, na verdade, está mais perto da própria realidade do que parece, ainda mais após a sociedade símia mostrar sinais de estar corrompida por intrigas e mentiras, corrupções tipicamente humanas, e que naquela organização social de códigos tão avançados quanto primitivos os aproxima ainda mais dos homens e mulheres que acabaram escravizados como visto em Planeta dos Macacos, filme de 1968 dirigido por Franklin J. Shaffner que inaugurou a franquia, poucas vezes tão incisiva quanto neste exemplar.

Parte do que deixa o humanismo de Planeta dos Macacos 2 tão latente, e faz com que o espectador se importe tanto com o destino dos personagens é o como a trama se desenrola, em especial no seu primeiro ato. Após imagens aterradoras de um presente trágico para as pessoas que antes eram os principais habitantes da Terra, tem-se um vislumbre da comunidade formada por várias espécies de macacos sob o comando de César (e é aí que os efeitos visuais e o design de produção realmente se sobressaem, pela verossimilhança). Matt Reeves escolheu por uma abordagem quase silenciosa que é chocante por se tratar de um blockbuster.

São vários minutos durante os quais presenciamos seu modo de viver, como se alimentam, os gestos e poucas palavras através dos quais se comunicam, e o equilíbrio estabelecido por uma paz prestes a ser quebrada, em um vindouro terceiro ato que impressiona não só pela execução cuidadosa do combate final (com Reeves estabelecendo muito bem a sua mise-en-scène), mas pela melancolia suscitada por ver materializada na tela o que já estava claro que ia acontecer, e o que estamos cansados de ver nos telejornais.

Se somos todos macacos ou se eles são todos homens não importa aqui. O que fica de lição após o abraço final, e por sabermos o que está por vir, é que, enquanto continuarmos apontando armas para nossos semelhantes, somos mesmo é um bando de idiotas.

Dawn of the Planet of the Apes, Matt Reeves, 2014 

2 comments:

joao said...

macacos não matam macacos
os humanos devem ter se destruido

chorei com essas duas frase

filmaço, divertido e reflexivo

juliana said...

Adorei o filme!!! Perfeito!!
Bom texto