Wednesday, August 13, 2014

A Face do Mal

Existem certas semelhanças temáticas entre A Face do Mal e o excelente Invocação do Mal, de James Wan. Ambos são filmes de fantasmas que assombram os novos moradores de uma casa que guarda um passado tenebroso. As semelhanças, no entanto, param por aí, pois se por um lado o filme de Wan se transformou em uma das experiências mais marcantes da filmografia recente do gênero devido ao talento de seu diretor em explorar os cômodos de sua mansão assombrada, o diretor Mac Carter é incapaz de conceber os ambientes de sua obra de modo a criar a atmosfera ideal.

O texto, genérico, também não ajuda. Na trama escrita por Andrew Barrer, a família Asher (pai, mãe e três filhos, duas meninas e um rapaz) se muda para uma casa onde, há alguns anos, um casal de médicos morava e onde ela (Jacki Weaver, afetada em uma ponta de luxo) também trabalhava. Não demora muito até que os espíritos resultantes de uma tragédia do passado se manifestem, entrando em contato especialmente com Evan (Harrison Gilbertson), jovem filho dos Asher e sua namorada, a misteriosa Sam (Liana Liberato, talvez o único destaque positivo do longa, uma bela e ao mesmo tempo bizarra mistura de Abigail Breslin e Sasha Grey).

A história batida não é necessariamente um problema. O terror é um gênero que se alimenta de clichês, que funcionam bem quando usados com inteligência. A questão que atrapalha o rendimento do longa é como Carter não consegue entender que para um filme de casa mal-assombrada funcionar, a própria casa precisa agir como personagem. O cineasta não demonstra interesse, ou talento, para fazer dos aposentos da construção lugares que se comportem como assustadores de forma convincente, preferindo apostar em sustos fáceis, através de notas altíssimas na trilha sonora invasiva de Reinhold Heil.

Sua câmera não invade, não perscruta, e uma cena de A Face do Mal é prova cabal das chances desperdiçadas por seu diretor: Evan ouve Anita, sua irmã mais nova, conversar com alguém no quarto, mas ao olhar pela porta entreaberta, não vê mais ninguém além da caçula. Enquanto Evan se afasta, a câmera vai junto, e o espectador nunca vê a resolução desta subtrama. Não se importar em responder perguntas que ajudariam a compor a trama é, inclusive, outra falha grave que Carter e Barrer não parecem compreender. Além da aparente capacidade de Anita de conversar com espíritos (aliás, por que ela aparece pintando os olhos dos seus familiares em uma fotografia?), incluem relances da relação conturbada de Sam com o pai, sem que estes sejam necessários para a resolução da trama.

Sim, alguns podem pensar que o final, que de certa forma é até surpreendente em sua coragem, conecta as pontas, mas na verdade elas continuam soltas após o fim da projeção. O encerramento de A Face do Mal, após alguma reflexão, se revela mais um embuste do que uma resolução, e contribui para o resultado negativo da obra que talvez, apesar dos problemas estruturais do roteiro (por exemplo, a caixa que serve pra que os personagens entrem em contato com os mortos não tem utilidade alguma, já que os fantasmas estão próximos aos protagonistas o tempo todo), poderia ter chegado a algum lugar com um diretor que fosse mais talentoso na hora de estabelecer sua mise-en-scène, e que conseguisse ao menos que o espectador compreendesse esteticamente as diferenças entre sonhos, visões e flashbacks (filmados sempre em um amarelo desbotado, como a foto de uma Polaroid velha) no meio dessa bagunça.

Haunt, Mac Carter, 2013 

1 comment:

joao said...

sua primeira frase me deixou com vontade de ver. a segunda já me fez perder a vontade