Existem
certas semelhanças temáticas entre A
Face do Mal e o excelente Invocação
do Mal, de James Wan. Ambos são filmes de fantasmas que assombram os novos moradores
de uma casa que guarda um passado tenebroso. As semelhanças, no entanto, param
por aí, pois se por um lado o filme de Wan se transformou em uma das
experiências mais marcantes da filmografia recente do gênero devido ao talento
de seu diretor em explorar os cômodos de sua mansão assombrada, o diretor Mac Carter
é incapaz de conceber os ambientes de sua obra de modo a criar a atmosfera
ideal.
O
texto, genérico, também não ajuda. Na trama escrita por Andrew Barrer, a
família Asher (pai, mãe e três filhos, duas meninas e um rapaz) se muda para
uma casa onde, há alguns anos, um casal de médicos morava e onde ela (Jacki
Weaver, afetada em uma ponta de luxo) também trabalhava. Não demora muito até
que os espíritos resultantes de uma tragédia do passado se manifestem, entrando
em contato especialmente com Evan (Harrison Gilbertson), jovem filho dos Asher
e sua namorada, a misteriosa Sam (Liana Liberato, talvez o único destaque
positivo do longa, uma bela e ao mesmo tempo bizarra mistura de Abigail Breslin
e Sasha Grey).
A
história batida não é necessariamente um problema. O terror é um gênero que se
alimenta de clichês, que funcionam bem quando usados com inteligência. A
questão que atrapalha o rendimento do longa é como Carter não consegue entender
que para um filme de casa mal-assombrada funcionar, a própria casa precisa agir
como personagem. O cineasta não demonstra interesse, ou talento, para fazer dos
aposentos da construção lugares que se comportem como assustadores de forma
convincente, preferindo apostar em sustos fáceis, através de notas altíssimas
na trilha sonora invasiva de Reinhold Heil.
Sua
câmera não invade, não perscruta, e uma cena de A Face do Mal é prova cabal das chances desperdiçadas por seu
diretor: Evan ouve Anita, sua irmã mais nova, conversar com alguém no quarto,
mas ao olhar pela porta entreaberta, não vê mais ninguém além da caçula.
Enquanto Evan se afasta, a câmera vai junto, e o espectador nunca vê a
resolução desta subtrama. Não se importar em responder perguntas que ajudariam
a compor a trama é, inclusive, outra falha grave que Carter e Barrer não parecem
compreender. Além da aparente capacidade de Anita de conversar com espíritos
(aliás, por que ela aparece pintando os olhos dos seus familiares em uma
fotografia?), incluem relances da relação conturbada de Sam com o pai, sem que
estes sejam necessários para a resolução da trama.
Sim,
alguns podem pensar que o final, que de certa forma é até surpreendente em sua
coragem, conecta as pontas, mas na verdade elas continuam soltas após o fim da
projeção. O encerramento de A Face do Mal,
após alguma reflexão, se revela mais um embuste do que uma resolução, e contribui
para o resultado negativo da obra que talvez, apesar dos problemas estruturais
do roteiro (por exemplo, a caixa que serve pra que os personagens entrem em
contato com os mortos não tem utilidade alguma, já que os fantasmas estão próximos
aos protagonistas o tempo todo), poderia ter chegado a algum lugar com um diretor
que fosse mais talentoso na hora de estabelecer sua mise-en-scène, e que
conseguisse ao menos que o espectador compreendesse esteticamente as diferenças
entre sonhos, visões e flashbacks (filmados sempre em um amarelo desbotado,
como a foto de uma Polaroid velha) no meio dessa bagunça.
Haunt,
Mac Carter, 2013
1 comment:
sua primeira frase me deixou com vontade de ver. a segunda já me fez perder a vontade
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