Apesar
de todos os esforços que têm sido feitos nos últimos anos para apresentar Os
Cavaleiros do Zodíaco para uma nova geração (iniciativa que abrange o
lançamento de games para o PS3 e a recriação das aventuras na televisão, dessa
vez com o sugestivo nome Ômega), a série acaba mesmo sendo abraçada nos dias de
hoje por quem cresceu nos anos 90, e que então tinha nos defensores de Atena
alguns de seus melhores amigos. São ainda os marmanjos que consomem produtos,
games, bonecos, mangás, independente do fato de não serem mais o público alvo
da franquia.
Talvez
resida aí o grande problema do novo longa-metragem de Saint Seiya: embora tenha
algumas ideias interessantes espalhadas pelos seus 90 minutos, Os Cavaleiros do
Zodíaco: A Lenda do Santuário é um filme que sofre com a tarefa de agradar
grupos de idades distantes e relações díspares com o material original. Na
tentativa de dialogar com a memória afetiva dos fãs antigos ao mesmo tempo em
que precisa ser palatável para os mais novos, acostumados com os menos
violentos (e ainda mais infantis) animes de hoje em dia, o longa de Keichi Sato
acaba no limbo, sem agradar a ninguém.
Mas
não por falta de boas intenções. Recontar a Saga do Santuário, atualizando o
visual dos personagens e lugares ao mesmo tempo em que altera os acontecimentos
mostrados na série, é uma estratégia interessante, que poderia funcionar com
todos os públicos, já que pelo menos no quesito “surpresa” existiria uma
igualdade entre os espectadores. O problema, nem um pouco inesperado, é a abordagem:
afinal, como adaptar 73 episódios em uma hora e meia?
O
texto peca pela falta de objetividade. A Lenda do Santuário desperdiça o primeiro
ato ao mostrar como a jovem Saori faz descobertas acerca de sua linhagem (ela é
a reencarnação da deusa Atena) e se vê envolvida em uma guerra entre os cinco
cavaleiros que juraram defendê-la (Seiya, Shiryu, Hyoga, Shun e Ikki) e o
Grande Mestre, que vê em Saori uma ameaça ao seu domínio sobre o Santuário, e liderando
um exército e os doze cavaleiros de ouro, está determinado a matá-la.
Apesar
de não haverem mudanças nas linhas gerais da trama, o resultado é uma narrativa
incompreensível. Falta habilidade aos roteiristas Chihiro e Tomohiro Suzuki (a
partir do clássico mangá de Masami Kurumada) para condensar os acontecimentos
de maneira funcional. É incrível como, mesmo gastando tempo para apresentar os
personagens, o roteiro não consiga dar conta da tarefa de forma coesa, o que
faz com que apenas os mais familiarizados com o cânone consigam algum
entendimento sobre os eventos que se seguem.
No
resto do longa, em especial em sua segunda metade (onde são feitas muitas
alterações nos eventos originais), os problemas continuam. Na teoria, os cinco
heróis precisam atravessar as doze casas, encarar os cavaleiros de ouro (e o
momento no qual Shiryu cita as casas uma por uma gera um dos poucos momentos em
que o humor, bastante acentuado, funciona), confrontar o Mestre do Mal e
colocar Atena em seu devido lugar, o comando do Santuário. Na prática, não é
bem o que acontece.
A
pouca duração da animação não permite muitos duelos e, portanto, o que se vê é
uma correria desenfreada. Os protagonistas têm pouquíssimo trabalho para
passarem pelos originalmente dolorosos e absurdamente difíceis embates com os
cavaleiros de ouro. Em raras lutas, sempre muito rápidas, Seiya e seus
companheiros não fazem o menor esforço para vencerem, o que enfraquece a
jornada e faz de A Lenda do Santuário uma obra nem um pouco sedutora.
Mas
não é só isso: detalhes são mal explicados, ou nem isso. Pontas ficam soltas (o
que é feito da flecha que Saori recebe no peito?), e o desfecho vai contra o fator "emoção", tudo
o que o aficionado pelo desenho animado está acostumado: o encontro com o
Grande Mestre é frio e resolvido com ligeireza inacreditável. Se antes, Saori
atravessava toda a escadaria, e ressuscitando cavaleiros mortos em combate em
direção ao Mestre, o protagonismo exagerado de Seiya a transforma dessa vez em
um bibelô, que dá a impressão de que nunca será a Atena que todos esperam.
Essa
frieza narrativa encontra ecos no visual desapaixonado e irresponsável da
animação. Se existem detalhes dignos de nota na direção de arte (principalmente
na elaboração dos cenários e das armaduras), eles se dão muito mais na
concepção do que na realização. A alardeada computação gráfica e os efeitos
visuais de Kouji Tajima raramente funcionam, e a inexpressividade dos
personagens (retratados com visuais que remetem aos games de Final Fantasy)
acaba tristemente coerente com a falta de emoção e respeito no cuidado com os
fãs, que não sem razão se sentem deixados de lado, e saem da sala de exibição
sem ouvirem Seiya gritar “Me dê a sua força, Pégaso!”, ou um único acorde da
trilha sonora clássica que, há 20 anos, enchia seus corações infantis.
Saint Seiya: Legend of Sanctuary,
Keichi Sato, 2014 ½
2 comments:
a casa de libra sequer é mencionada(ou perdi isso?) o cavaleiro de cancer virou um dançarino de boate e tudo é muito corrido. nao creio que quem nao tenha acompanhado na tv consiga ter entendido tudo
São tantos comentários negativos sobre o filme que só prefiro elogiar seu bom texto.
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