Lançado
em 2013, o terror Invocação do Mal
era um achado. Um filme que lançava mão dos clichês mais antigos, como porões
infestados de teias de aranhas e quadros que despencam das paredes, para criar
umm dos mais assustadores filmes de fantasmas dos últimos tempos. O malaio
James Wan, que já havia provado seu talento no comando de longas de horror como
Jogos Mortais e Sobrenatural, conquistou as plateias ao se aproveitar do texto de
Chad e Carey Hayes para construir uma experiência extremamente tensa, em vez de
investir em sustos fáceis.
Annabelle,
spin-off que se aproveita da fama da horrenda boneca que apavorou os
espectadores em Invocação do Mal,
tenta ir pelo mesmo caminho em sua realização. E é até certo ponto uma
experiência bem-sucedida, com uma aposta na escalada do suspense e em saídas
visuais do diretor John R. Leonetti, que se inspira em Roman Polansky e William
Friedkin de maneira interessante, apesar de pouco sutil.
A
trama, escrita por Gary Dauberman, acompanha o casal Mia e John Gordon, que
sofrem um ataque de um casal de maníacos pertencentes a uma seita satânica, os
Discípulos do Carneiro. Após o trágico incidente (no qual Mia, que estava
grávida, foi esfaqueada e os homicidas acabaram mortos pela polícia), o casal
se muda e recomeça a vida, mas após alguns meses, eles passam a serem
assombrados por uma força demoníaca liberada pela seita, e que parece estar
habitando uma boneca enquanto atormenta a família atrás de uma alma.
Não
existe novidade no texto de Dauberman, que se desenrola da maneira mais
convencional que o gênero pode oferecer (passando inclusive pelo momento em que
um dos protagonistas resolve investigar os eventos por conta própria, indo a
uma biblioteca e passando a noite envolto a uma pilha de livros). Mas renovar
também não é a preocupação da direção de Leonetti, que aposta em movimentos
clássicos dos filmes de casa mal-assombrada (como o sutil desvio de câmera que
revela o corredor atrás de uma personagem em uma cena passada na lavanderia, ou
o travelling pra dentro de casa na sequência do ataque dos psicopatas) e em
citações a O Bebê de Rosemary (a
maneira como sua câmera perscruta os corredores do edifício habitado pelos
Gordon, a protagonista batizada em homenagem a Mia Farrow).
A
grande sacada por aqui, assim como nos filmes de James Wan, é a maneira prática
encontrada pela produção (orçada em valores modestos para os padrões atuais)
para produzir o horror e os sustos. Praticamente sem computação gráfica, Annabelle utiliza as sombras para criar
a tensão e preparar o terreno para a chegada do tenebroso demônio vivido por
Joseph Bishara (que, experiente em envergar criaturas infernais, foi também
Lipstick-Face Demon em Sobrenatural
e Bathsheba em Invocação do Mal),
cuja primeira aparição se coloca entre os grandes momentos do gênero na
temporada.
Ao
fim da sessão, no entanto, fica a sensação de que Annabelle poderia ter ido ainda mais longe. O roteiro, apesar de
batido, insinua um viés sentimental e um comentário sobre a conexão entre mães
e filhas, mas falta ao elenco (em especial ao casal de protagonistas formado
por Annabelle Wallis e Ward Horton) talento para dar à trama uma carga mais
dramática. Resta aos bons coadjuvantes Alfre Woodard (Evelyn) e Tony Amendola
(Padre Perez) roubarem a cena. A necessidade de conectar a narrativa com o
filme de Wan também atrapalha o produto final, pois suscita comparações
inevitáveis e injustas, que fazem com que o longa pareça sempre menor do que o
(se não novo, nem surpreendente) elegante terror que ele é.
Annabelle,
John R. Leonetti, 2014
1 comment:
Olha. Não consigo entender como a boneca pode ser tão feia. se ela ficasse assim quando fosse possuida, ok, mas não. estranho que alguma criança tenha essa boneca
quanto ao filme.
E inevitável a comparação e assim sendo é um filme menor, e infinitamente superior a quase tudo do gênero recente.
de cara tinha achado que o filme poderia ser sobre qualquer outro brinquedo a que as ligações com invocação do mal eram apenas referências pra pegar carona. mas não sei se acho mais isso
Não é o filme que vai ficar marcado na vida de ninguém, nem mesmo na lista de melhores do ano, no entanto é eficiente.
a cena do elevador é genial, assim como o ataque ao casal de vizinhos visto da janela do casal de protagonistas
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