Monday, October 20, 2014

Annabelle

Lançado em 2013, o terror Invocação do Mal era um achado. Um filme que lançava mão dos clichês mais antigos, como porões infestados de teias de aranhas e quadros que despencam das paredes, para criar umm dos mais assustadores filmes de fantasmas dos últimos tempos. O malaio James Wan, que já havia provado seu talento no comando de longas de horror como Jogos Mortais e Sobrenatural, conquistou as plateias ao se aproveitar do texto de Chad e Carey Hayes para construir uma experiência extremamente tensa, em vez de investir em sustos fáceis.

Annabelle, spin-off que se aproveita da fama da horrenda boneca que apavorou os espectadores em Invocação do Mal, tenta ir pelo mesmo caminho em sua realização. E é até certo ponto uma experiência bem-sucedida, com uma aposta na escalada do suspense e em saídas visuais do diretor John R. Leonetti, que se inspira em Roman Polansky e William Friedkin de maneira interessante, apesar de pouco sutil.

A trama, escrita por Gary Dauberman, acompanha o casal Mia e John Gordon, que sofrem um ataque de um casal de maníacos pertencentes a uma seita satânica, os Discípulos do Carneiro. Após o trágico incidente (no qual Mia, que estava grávida, foi esfaqueada e os homicidas acabaram mortos pela polícia), o casal se muda e recomeça a vida, mas após alguns meses, eles passam a serem assombrados por uma força demoníaca liberada pela seita, e que parece estar habitando uma boneca enquanto atormenta a família atrás de uma alma.

Não existe novidade no texto de Dauberman, que se desenrola da maneira mais convencional que o gênero pode oferecer (passando inclusive pelo momento em que um dos protagonistas resolve investigar os eventos por conta própria, indo a uma biblioteca e passando a noite envolto a uma pilha de livros). Mas renovar também não é a preocupação da direção de Leonetti, que aposta em movimentos clássicos dos filmes de casa mal-assombrada (como o sutil desvio de câmera que revela o corredor atrás de uma personagem em uma cena passada na lavanderia, ou o travelling pra dentro de casa na sequência do ataque dos psicopatas) e em citações a O Bebê de Rosemary (a maneira como sua câmera perscruta os corredores do edifício habitado pelos Gordon, a protagonista batizada em homenagem a Mia Farrow).

A grande sacada por aqui, assim como nos filmes de James Wan, é a maneira prática encontrada pela produção (orçada em valores modestos para os padrões atuais) para produzir o horror e os sustos. Praticamente sem computação gráfica, Annabelle utiliza as sombras para criar a tensão e preparar o terreno para a chegada do tenebroso demônio vivido por Joseph Bishara (que, experiente em envergar criaturas infernais, foi também Lipstick-Face Demon em Sobrenatural e Bathsheba em Invocação do Mal), cuja primeira aparição se coloca entre os grandes momentos do gênero na temporada.

Ao fim da sessão, no entanto, fica a sensação de que Annabelle poderia ter ido ainda mais longe. O roteiro, apesar de batido, insinua um viés sentimental e um comentário sobre a conexão entre mães e filhas, mas falta ao elenco (em especial ao casal de protagonistas formado por Annabelle Wallis e Ward Horton) talento para dar à trama uma carga mais dramática. Resta aos bons coadjuvantes Alfre Woodard (Evelyn) e Tony Amendola (Padre Perez) roubarem a cena. A necessidade de conectar a narrativa com o filme de Wan também atrapalha o produto final, pois suscita comparações inevitáveis e injustas, que fazem com que o longa pareça sempre menor do que o (se não novo, nem surpreendente) elegante terror que ele é.

Annabelle, John R. Leonetti, 2014 

1 comment:

joão said...

Olha. Não consigo entender como a boneca pode ser tão feia. se ela ficasse assim quando fosse possuida, ok, mas não. estranho que alguma criança tenha essa boneca

quanto ao filme.

E inevitável a comparação e assim sendo é um filme menor, e infinitamente superior a quase tudo do gênero recente.

de cara tinha achado que o filme poderia ser sobre qualquer outro brinquedo a que as ligações com invocação do mal eram apenas referências pra pegar carona. mas não sei se acho mais isso

Não é o filme que vai ficar marcado na vida de ninguém, nem mesmo na lista de melhores do ano, no entanto é eficiente.

a cena do elevador é genial, assim como o ataque ao casal de vizinhos visto da janela do casal de protagonistas