Tuesday, October 06, 2015

A Forca

As histórias acerca da concepção de A Forca são interessantes: em dificuldades financeiras, Travis Cluff resolveu tentar a vida no cinema. Assim, acabou estreando na direção com Gold Fools, que não fez barulho algum. De alguma forma, Cluff encontrou o jovem cineasta Chris Lofing, e com ele dirigiu o trailer de The Gallows, projeto que chamou a atenção do produtor Jason Blum, que vendeu para a ideia da produção para a Warner.

Infelizmente, o longa que se originou daquele teaser é extremamente problemático, apesar de se esforçar bastante para esconder suas limitações (os custos não teriam passado dos 100 mil dólares). A trama, ambientada em Beatrice, no Nebraska, se passa vinte anos após uma tragédia ocorrida em uma escola, na qual um menino, Charlie, acabou enforcado durante a encenação da peça The Gallows. Nos dias atuais, uma nova versão daquela peça está sendo ensaiada, mas na última noite antes da estreia, os jovens Reese (Reese Mishler), Pfeifer (Pfeifer Brown, que forma com Reese o casal de protagonistas do espetáculo teatral), Ryan (Ryan Shoos) e Cassidy (Cassidy Gifford) acabam presos dentro da escola. E as coisas não demoram a ficarem assustadoras.

Existe pouquíssima – ou nenhuma – novidade em A Forca, que reprisa tudojá visto em filmes de terror protagonizados por adolescentes. Dos arquétipos (a nerd, o atleta apaixonado por ela, o casal de amigos mau-caráter do atleta) à trama (reciclada, em drama e tensão, dos piores momentos de Kevin Williamson), nada soa diferente para quem acompanhou, nos anos 80 e 90, o auge do subgênero, com suas alegorias para a morte da inocência e seu moralismo barato (os jovens maus, geralmente os fortões e suas namoradas preconceituosas e com belos decotes, sempre morrem primeiro), apesar certo apelo entre a nova geração de espectadores.

Deve ser por isso, por ter como público-alvo os que acabaram de entrar na puberdade, que Cluff e Lofing optam por uma violência sanitizada, que faz com que as vítimas sejam arrastadas para longe do enquadramento na hora da morte, e quase nenhum sangue seja derramado. Nesse contexto, a opção do fantasma assassino (que age vestindo uma máscara, embora todos saibam quem ele é e além, claro, de ele ser um fantasma) de matar utilizando uma corda, em vez das clássicas facas e machados, se mostra apropriada, por ser mais limpinho, e agradar a leva de adolescentes filhos da época do politicamente correto, que se choca com qualquer coisa.

Outra escolha que os cineastas fazem motivados pelo baixo orçamento é a abordagem. O found footage barateia os custos (muitas vezes até na pós-produção, ao esconder a ameaça nas sombras e na baixa resolução, economizando em efeitos visuais) e maquia a falta de talento do elenco. O problema é que, além de os protagonistas de A Forca serem péssimos cinegrafistas, o formato é inexplicável por aqui, já que evidencia problemas claros do roteiro, criando furos que complicam a suspensão de descrença (Ryan explicando para Cassidy e Reese, com a câmera ligada, seus planos de estragar a peça, e o absurdo momento em que uma câmera é deixada no chão com a desculpa de iluminar o local em que Pfeifer e Reese conversam). A impressão que dá é que Cluff e Lofing ouviram demais os conselhos de Jason Blum (que produziu o mega sucesso Atividade Paranormal) sobre o uso constante de câmera na mão. Faltou autoanálise aos diretores.

Tantos problemas, no desenvolvimento de tramas e personagens, levam a um desfecho que tenta salvar A Forca com uma virada, mas a solução encontrada para o final-surpresa (bem, nem tão surpreendente assim para o espectador acostumado com o gênero) soa desonesto, apostando em coincidências (é impossível prever que tal personagem estará naquele lugar àquela hora e tomará aquela decisão) e em uma explicação que busca o choque, mas que desmorona após uma reflexão por parte do público. A intenção de Cluff e Lofing de atualizar o horror de ensino médio é nobre, e realmente eficiente em alguns poucos pontos: não dá pra negar que a inserção do celular com app de visão noturna é uma boa ideia, assim como a fotografia de Edd Lukas é eficaz durante quase toda a duração do longa, mas é preciso mais do que vontade e algumas boas ideias para a construção de um bom filme de terror. E não estou falando de dinheiro.

The Gallows, Travis Cluff e Chris Lofing, 2015 

1 comment:

joão said...

Ia ver, mas so estreou dublado, ai passei rs