As
histórias acerca da concepção de A Forca
são interessantes: em dificuldades financeiras, Travis Cluff resolveu tentar a vida
no cinema. Assim, acabou estreando na direção com Gold Fools, que não fez
barulho algum. De alguma forma, Cluff encontrou o jovem cineasta Chris Lofing, e
com ele dirigiu o trailer de The Gallows, projeto que chamou a atenção do
produtor Jason Blum, que vendeu para a ideia da produção para a Warner.
Infelizmente,
o longa que se originou daquele teaser é extremamente problemático, apesar de
se esforçar bastante para esconder suas limitações (os custos não teriam
passado dos 100 mil dólares). A trama, ambientada em Beatrice, no Nebraska, se
passa vinte anos após uma tragédia ocorrida em uma escola, na qual um menino,
Charlie, acabou enforcado durante a encenação da peça The Gallows. Nos dias
atuais, uma nova versão daquela peça está sendo ensaiada, mas na última noite antes
da estreia, os jovens Reese (Reese Mishler), Pfeifer (Pfeifer Brown, que forma
com Reese o casal de protagonistas do espetáculo teatral), Ryan (Ryan Shoos) e
Cassidy (Cassidy Gifford) acabam presos dentro da escola. E as coisas não
demoram a ficarem assustadoras.
Existe
pouquíssima – ou nenhuma – novidade em A
Forca, que reprisa tudojá visto em filmes de terror protagonizados por
adolescentes. Dos arquétipos (a nerd, o atleta apaixonado por ela, o casal de
amigos mau-caráter do atleta) à trama (reciclada, em drama e tensão, dos piores
momentos de Kevin Williamson), nada soa diferente para quem acompanhou, nos
anos 80 e 90, o auge do subgênero, com suas alegorias para a morte da inocência
e seu moralismo barato (os jovens maus, geralmente os fortões e suas namoradas
preconceituosas e com belos decotes, sempre morrem primeiro), apesar certo
apelo entre a nova geração de espectadores.
Deve
ser por isso, por ter como público-alvo os que acabaram de entrar na puberdade,
que Cluff e Lofing optam por uma violência sanitizada, que faz com que as
vítimas sejam arrastadas para longe do enquadramento na hora da morte, e quase
nenhum sangue seja derramado. Nesse contexto, a opção do fantasma assassino
(que age vestindo uma máscara, embora todos saibam quem ele é e além, claro, de
ele ser um fantasma) de matar utilizando uma corda, em vez das clássicas facas
e machados, se mostra apropriada, por ser mais limpinho, e agradar a leva de
adolescentes filhos da época do politicamente correto, que se choca com
qualquer coisa.
Outra
escolha que os cineastas fazem motivados pelo baixo orçamento é a abordagem. O found footage barateia os custos (muitas
vezes até na pós-produção, ao esconder a ameaça nas sombras e na baixa
resolução, economizando em efeitos visuais) e maquia a falta de talento do
elenco. O problema é que, além de os protagonistas de A Forca serem péssimos cinegrafistas, o formato é inexplicável por
aqui, já que evidencia problemas claros do roteiro, criando furos que complicam
a suspensão de descrença (Ryan explicando para Cassidy e Reese, com a câmera
ligada, seus planos de estragar a peça, e o absurdo momento em que uma câmera é
deixada no chão com a desculpa de iluminar o local em que Pfeifer e Reese conversam).
A impressão que dá é que Cluff e Lofing ouviram demais os conselhos de Jason
Blum (que produziu o mega sucesso Atividade
Paranormal) sobre o uso constante de câmera na mão. Faltou autoanálise aos
diretores.
Tantos
problemas, no desenvolvimento de tramas e personagens, levam a um desfecho que
tenta salvar A Forca com uma virada,
mas a solução encontrada para o final-surpresa (bem, nem tão surpreendente
assim para o espectador acostumado com o gênero) soa desonesto, apostando em
coincidências (é impossível prever que tal personagem estará naquele lugar
àquela hora e tomará aquela decisão) e em uma explicação que busca o choque,
mas que desmorona após uma reflexão por parte do público. A intenção de Cluff e
Lofing de atualizar o horror de ensino médio é nobre, e realmente eficiente em
alguns poucos pontos: não dá pra negar que a inserção do celular com app de visão
noturna é uma boa ideia, assim como a fotografia de Edd Lukas é eficaz durante
quase toda a duração do longa, mas é preciso mais do que vontade e algumas boas
ideias para a construção de um bom filme de terror. E não estou falando de
dinheiro.
The Gallows,
Travis Cluff e Chris Lofing, 2015
1 comment:
Ia ver, mas so estreou dublado, ai passei rs
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