2009
foi um grande ano para o trekker. Após 18 anos afastados das telonas, Kirk,
Spock, McCoy e Cia voltavam às telas, e completamente repaginados. Sob o
comando de J. J. Abrams, Star Trek era tudo o que o fã dos personagens criados
por Gene Roddenberry queria: um longa-metragem com potencial para reiniciar a
franquia (literalmente, já que a aventura retratava os primeiros momentos de
seus protagonistas) e, ao mesmo tempo, fazer conexões (ora sutis, ora nem
tanto) com a Série Clássica. Os heróis eternizados pelas performances do elenco
sessentista caíram bem sob novos rostos, e Jornada nas Estrelas estava de
volta.
Visto
destacado das três temporadas da Série Clássica, Além da Escuridão representa,
portanto, um passo natural da saga. Novamente escrito a seis mãos por Roberto
Orci, Alex Kurtzman e Damon Lindelof, o novo Star Trek é um deleite: se
aproveita da mitologia e dos primeiros filmes para fazer suas conexões, continua
a desenvolver seus personagens sem pressa e, quando precisa, entrega as
melhores cenas de ação em muitos anos. Como sempre, o texto traça paralelos com
o real, e temas como o terrorismo e a memória recente da destruição em massa
(como foram as discussões sobre intolerância, preconceito e violência gratuita
lá atrás) são a espinha dorsal por aqui, principalmente com a inclusão do vilão
John Harrison, vivido por Benedict Cumberbatch.
A
questão das realidades paralelas iniciada no filme anterior permeia todos os
pontos da história novamente. Jogada de gênio que foi, é utilizada sem pudor pelo
seu diretor, que se aproveita dos para-universos a fim de levar sua narrativa
para onde bem quiser sem que isso interfira na mitologia clássica da franquia.
A propósito, é graças a esse diálogo entre o que foi e o que é agora que surge
a mais corajosa cena de Além da Escuridão e um dos grandes momentos da temporada,
quando em uma inversão de papéis pertinente, um personagem berra ao se deparar
com o destino de outro. Oportunista? Sim. Golpe de roteiro? Sem dúvida. E
aplicado com tanta classe que o espectador se emociona de novo.
Entretanto,
apesar de pisar em terreno conhecido durante a maior parte do tempo, nem tudo
são flores com o cineasta que, na TV, havia feito os sobreviventes do voo 815 passarem o diabo durante
as seis temporadas de Lost. Abrams descolore a jornada, intensifica o caráter
intimista de suas discussões e bate em seus personagens com força. O resultado,
apesar de eficiente (principalmente com as tensões criadas no reboot), causa
estranhamento, inclusive no título nacional, que destaca a viagem para as
trevas antes até da logo original.
Apesar
de toda a novidade no tom e na abordagem, o novo Star Trek, ou melhor, seu
comandante sabe quando e como tocar o coração de seu fã. Resgata trechos da
trilha clássica, recita o juramento quando tem que ser, exibe a dinâmica
Kirk-Spock-McCoy mais de uma vez e enquadra a Enterprise da forma mais
reverenciável possível. Nesse equilíbrio reside o trunfo de uma série que
definitivamente voltou pra ficar.
Star Trek Into Darkness, J.J. Abrams, 2013 

2 comments:
Não sou fã do gênero e não curto o filme de 2009. Não devo ver
Lindo demais!
Amei e me emocionei não só com o segundo... o primeiro Star Trek também é brilhante.
Belo texto!
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