Monday, June 17, 2013

Além da Escuridão - Star Trek


2009 foi um grande ano para o trekker. Após 18 anos afastados das telonas, Kirk, Spock, McCoy e Cia voltavam às telas, e completamente repaginados. Sob o comando de J. J. Abrams, Star Trek era tudo o que o fã dos personagens criados por Gene Roddenberry queria: um longa-metragem com potencial para reiniciar a franquia (literalmente, já que a aventura retratava os primeiros momentos de seus protagonistas) e, ao mesmo tempo, fazer conexões (ora sutis, ora nem tanto) com a Série Clássica. Os heróis eternizados pelas performances do elenco sessentista caíram bem sob novos rostos, e Jornada nas Estrelas estava de volta.
                                             
Visto destacado das três temporadas da Série Clássica, Além da Escuridão representa, portanto, um passo natural da saga. Novamente escrito a seis mãos por Roberto Orci, Alex Kurtzman e Damon Lindelof, o novo Star Trek é um deleite: se aproveita da mitologia e dos primeiros filmes para fazer suas conexões, continua a desenvolver seus personagens sem pressa e, quando precisa, entrega as melhores cenas de ação em muitos anos. Como sempre, o texto traça paralelos com o real, e temas como o terrorismo e a memória recente da destruição em massa (como foram as discussões sobre intolerância, preconceito e violência gratuita lá atrás) são a espinha dorsal por aqui, principalmente com a inclusão do vilão John Harrison, vivido por Benedict Cumberbatch.

A questão das realidades paralelas iniciada no filme anterior permeia todos os pontos da história novamente. Jogada de gênio que foi, é utilizada sem pudor pelo seu diretor, que se aproveita dos para-universos a fim de levar sua narrativa para onde bem quiser sem que isso interfira na mitologia clássica da franquia. A propósito, é graças a esse diálogo entre o que foi e o que é agora que surge a mais corajosa cena de Além da Escuridão e um dos grandes momentos da temporada, quando em uma inversão de papéis pertinente, um personagem berra ao se deparar com o destino de outro. Oportunista? Sim. Golpe de roteiro? Sem dúvida. E aplicado com tanta classe que o espectador se emociona de novo.

Entretanto, apesar de pisar em terreno conhecido durante a maior parte do tempo, nem tudo são flores com o cineasta que, na TV, havia feito os sobreviventes do voo 815 passarem o diabo durante as seis temporadas de Lost. Abrams descolore a jornada, intensifica o caráter intimista de suas discussões e bate em seus personagens com força. O resultado, apesar de eficiente (principalmente com as tensões criadas no reboot), causa estranhamento, inclusive no título nacional, que destaca a viagem para as trevas antes até da logo original.

Apesar de toda a novidade no tom e na abordagem, o novo Star Trek, ou melhor, seu comandante sabe quando e como tocar o coração de seu fã. Resgata trechos da trilha clássica, recita o juramento quando tem que ser, exibe a dinâmica Kirk-Spock-McCoy mais de uma vez e enquadra a Enterprise da forma mais reverenciável possível. Nesse equilíbrio reside o trunfo de uma série que definitivamente voltou pra ficar.

Star Trek Into Darkness, J.J. Abrams, 2013 

2 comments:

joão said...

Não sou fã do gênero e não curto o filme de 2009. Não devo ver

Raquel Raposo said...

Lindo demais!
Amei e me emocionei não só com o segundo... o primeiro Star Trek também é brilhante.
Belo texto!