O Juiz
é um projeto cujas virtudes não condizem com suas ambições. Mescla de
subgêneros classicamente acadêmicos (filme de volta para casa, filme de acerto
de contas em família e filme de tribunal), o longa parece buscar destaque
através da emoção, mas, a não ser pelas intensas atuações de Robert Downey Jr.
E Robert Duvall, jamais consegue o efeito desejado, devido a um roteiro
extremamente previsível e à frieza mecânica da direção de David Dobkin, que resolveu
mergulhar no drama e tentar voos acadêmicos após uma irregular carreira na
comédia.
A
trama, escrita por Nick Schenk e Bill Dubuque acompanha o advogado Hank Palmer
(Downey Jr.), que volta à sua cidade natal, a pequena Carlinville, para o
enterro de sua mãe. O retorno, após 20 anos, o coloca em contato novamente com
seu pai, o juiz Joseph Palmer (Duvall), com quem mantém péssima relação, com
seus irmãos e com Sam (Vera Farmiga), sua antiga namorada.
O
texto se desenrola bem nos primeiros minutos, principalmente por pintar
exclusivamente a melancolia familiar dos Palmer. Schenk, responsável por
escrever Gran Torino (obra-prima de
Clint Eastwood sobre laços familiares), e Dubuque demonstram habilidade na
apresentação dos personagens (e a primeira aparição de Hank, no banheiro do
tribunal, é digna de nota, por utilizar o ambiente como metáfora para o modo
como o protagonista se comporta em sua profissão), que encontra ecos na forma
como Dobkin enquadra seus personagens (destaque para as sombras que conferem
grandiosidade e honradez a Joseph enquanto julga um caso, sendo assistido pelo
filho).
A
partir de certo ponto, um novo detalhe se une ao já recheado universo de
problemas de Hank (que além de todas as mágoas do passado, também está em
processo de divórcio). Um rapaz é atropelado e, sem receber socorro, morre. O
sangue dele é encontrado no para-choque do carro do juiz Palmer, que
simplesmente não se lembra do que aconteceu na noite do acidente. Não admite
ter feito, mas não pode negar a responsabilidade.
E
é aí que O Juiz não consegue atingir
o equilíbrio para resolver de maneira satisfatória o filme de família e o filme
de tribunal. Enquanto funciona relativamente bem como o primeiro, inclusive
quando investe na proximidade entre Hank e sua filha (a lindinha Emma Tremblay)
e na tensão entre o protagonista e Sam, soa comum e artificial no segundo
(apesar dos esforços de Downey Jr. e Billy Bob Thornton, como advogados rivais,
para conferirem peso às cenas de julgamento). Fica a impressão de dois filmes sem
conexão. Os detalhes que amarram as duas linhas narrativas são até
interessantes (a questão pessoal que explica o esquecimento de Joseph é
melodramática na medida certa), mas com exceção de momentos pontuais (como o
movimento de câmera de Dobkin, o mais elegante de toda a projeção, na sequência
em que Hank conversa com um médico acerca do estado de seu pai; inicialmente
falando como advogado, ele logo passa ao papel de filho quando avista o juiz,
aparentemente indefeso, brincando com a neta), não passa do terreno da
superficialidade.
Os
alívios cômicos, que deveriam refrear o melodrama e estabelecer um tom menos
histérico, também não surtem efeito, e por soarem deslocados, sempre acabam
conspirando contra a eficiência de alguns momentos que seriam vencedores se o
drama tivesse se mantido. Faltou uma direção que entendesse melhor os timings
da narrativa. David Dobkin acertou pouquíssimas vezes na carreira (Penetras Bons de Bico parece uma ilha
de qualidade perto de erros gigantescos como Bater ou Correr em Londres, Titio
Noel e Eu Queria Ter a Sua Vida),
e aqui ele desliza por não entender o material que tem nas mãos.
A
sensação é que o longa se sairia melhor com um diretor que conferisse peso ao
drama e com um texto que se desenrolasse de forma mais consciente, encarando os
lugares-comuns como percalços necessários, em vez de se comportar como se o
espectador estivesse presenciando aqueles eventos pela primeira vez na vida.
Compreender que esta é uma obra que chega no rastro de um gênero cuja tradição
remonta a mais de 50 anos de longas-metragens faria com que O Juiz ao menos se encerrasse de forma
mais digna.
The Judge,
David Dobkin, 2014
2 comments:
achei longo demais pra uma trama curta
E downer jr parece está interpretando o msmo personagem em tudo que fez recentemente. Otimo, mas ainda assim o mesmo
Confesso que fiquei envolvido com o filme, não sei se por causa da relação conturbada com o pai (com a qual me identifico), não sei se pela questão do ambiente jurídico (e por estar envolvido com isso profissionalmente), mas eu gostei.
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