É
longeva a parceria entre Hollywood e a Broadway. Através das décadas, por
diversas vezes o cinema se utilizou de sucessos dos palcos em adaptações para a
película. De My Fair Lady a Rock of Ages, passando por Cabaret e Hairspray, os exemplos, premiados ou esquecíveis, são diversos. Caminhos da Floresta é o mais novo
musical a ganhar sua versão para as telas. Com elenco estelar, o longa parece
tentar desesperadamente chegar a algum lugar, mas o roteiro e a direção
extremamente confusa, que jamais funciona em números que envolvem diversos
personagens em locais diferentes, sabotam o projeto desde o início.
A
premissa é interessante. Auxiliado pelo texto de James Lapine (que também
escreveu o espetáculo nos palcos, ao lado de Stephen Sondheim), o diretor Rob
Marshall dá vida à trama que se comporta como uma espécie de proto-conto, uma
história original de onde as histórias infantis se ramificaram. Convivem no
mesmo reino (belissimamente elaborado, trabalho da ótima direção de arte) Cinderela
(Anna Kendrick), Rapunzel (Mackenzie Mauzy), seus príncipes (Chris Pine e Billy
Magnussen), Chapeuzinho Vermelho (Lilla Crawford), e João (Daniel Huttlestone),
que acabará arrumando suas sementes de feijão. O que une os personagens é a
maldição lançada por uma bruxa (Meryl Streep) sobre um padeiro (James Corden) e
sua mulher (Emily Blunt), que se esforçam para arrumarem os objetos certos para
desfazer o feitiço.
Infelizmente,
Caminhos da Floresta não consegue
fugir do que ameaçava desde o início ser uma armadilha: o excesso de histórias
coexistindo transforma a narrativa em uma bagunça indecifrável, que distrai o
público (tirando o foco das qualidades técnicas inegáveis do projeto, como
maquiagem e figurinos), e que subaproveita seus personagens, traço que já havia
atrapalhado alguns dos filmes anteriores de Marshall, como os fracos Memórias de uma Gueixa e Nine. Personagens desaparecem,
reaparecendo quando o espectador nem se lembrava mais de sua existência, o que
dificulta a criação de laços entre o longa e a plateia e cria uma barriga
gigantesca com a demora para resolver o destino de alguns coadjuvantes. Outras
tramas (como a vingança e uma certa vilã) aparecem apenas após a metade da
projeção, quase como uma desculpa de Lapine para esticar ainda mais a confusão
na qual o filme rapidamente se transformara.
As
canções, ponto crucial no sucesso de um gênero que depende delas para contar
suas histórias, também não funcionam, e o fato de dezoito (!) músicas serem executadas
ao longo do filme também não ajuda. O primeiro número do longa, “Prologue”,
parece ecoar durante metade do projeto, fato que faz com que o espectador se
sinta aliviado em seu fim. Os únicos pontos altos são “Last Midnight”, que pode
ter sido a responsável pela indicação de Meryl Streep a algumas das principais
premiações, e “Agony”, que representa, na letra constrangedora e nos excessos
da interpretação de Chris Pine e Billy Magnussen, a nova face da Disney, que
bancou o projeto, em sua missão de transformar os príncipes em seres menos
encantados, fazendo companhia (mais tematicamente e menos em qualidade) a
produções como Frozen, Malévola e Valente.
A
questão é que nem mesmo essas canções, aliadas à técnica digna de prêmios e às
aparições especiais de Tracey Ullman e Johnny Depp, fazem com que Caminhos da Floresta escape de ser
esquecível, em 125 minutos de uma cantoria pouco inspirada e um texto
extremamente confuso, que faz par com a mise-en-scène inexplicável de seu
diretor, que torna indecifrável a mais simples composição cênica. Talvez com um
cineasta mais eficiente em estabelecer a ação, o longa pudesse se tornar um
musical admirável. Nas mãos de Marshall, porém, o longa acaba naufragando em
suas ambições, e em suas tentativas de ser o conto infantil definitivo,
inserindo subtramas desnecessárias e desenvolvendo mal uma história que era
promissora em suas intenções iniciais.
Into the Woods, Rob Marshall, 2014
2 comments:
na teoria é uma boa
na pratica parece uma comedia satira que sem nenhma vergonha atira pra todos os lados e não acerta em nada
um lixo
Chatíssimo. uu
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