Sunday, February 01, 2015

Caminhos da Floresta

É longeva a parceria entre Hollywood e a Broadway. Através das décadas, por diversas vezes o cinema se utilizou de sucessos dos palcos em adaptações para a película. De My Fair Lady a Rock of Ages, passando por Cabaret e Hairspray, os exemplos, premiados ou esquecíveis, são diversos. Caminhos da Floresta é o mais novo musical a ganhar sua versão para as telas. Com elenco estelar, o longa parece tentar desesperadamente chegar a algum lugar, mas o roteiro e a direção extremamente confusa, que jamais funciona em números que envolvem diversos personagens em locais diferentes, sabotam o projeto desde o início.

A premissa é interessante. Auxiliado pelo texto de James Lapine (que também escreveu o espetáculo nos palcos, ao lado de Stephen Sondheim), o diretor Rob Marshall dá vida à trama que se comporta como uma espécie de proto-conto, uma história original de onde as histórias infantis se ramificaram. Convivem no mesmo reino (belissimamente elaborado, trabalho da ótima direção de arte) Cinderela (Anna Kendrick), Rapunzel (Mackenzie Mauzy), seus príncipes (Chris Pine e Billy Magnussen), Chapeuzinho Vermelho (Lilla Crawford), e João (Daniel Huttlestone), que acabará arrumando suas sementes de feijão. O que une os personagens é a maldição lançada por uma bruxa (Meryl Streep) sobre um padeiro (James Corden) e sua mulher (Emily Blunt), que se esforçam para arrumarem os objetos certos para desfazer o feitiço.

Infelizmente, Caminhos da Floresta não consegue fugir do que ameaçava desde o início ser uma armadilha: o excesso de histórias coexistindo transforma a narrativa em uma bagunça indecifrável, que distrai o público (tirando o foco das qualidades técnicas inegáveis do projeto, como maquiagem e figurinos), e que subaproveita seus personagens, traço que já havia atrapalhado alguns dos filmes anteriores de Marshall, como os fracos Memórias de uma Gueixa e Nine. Personagens desaparecem, reaparecendo quando o espectador nem se lembrava mais de sua existência, o que dificulta a criação de laços entre o longa e a plateia e cria uma barriga gigantesca com a demora para resolver o destino de alguns coadjuvantes. Outras tramas (como a vingança e uma certa vilã) aparecem apenas após a metade da projeção, quase como uma desculpa de Lapine para esticar ainda mais a confusão na qual o filme rapidamente se transformara.

As canções, ponto crucial no sucesso de um gênero que depende delas para contar suas histórias, também não funcionam, e o fato de dezoito (!) músicas serem executadas ao longo do filme também não ajuda. O primeiro número do longa, “Prologue”, parece ecoar durante metade do projeto, fato que faz com que o espectador se sinta aliviado em seu fim. Os únicos pontos altos são “Last Midnight”, que pode ter sido a responsável pela indicação de Meryl Streep a algumas das principais premiações, e “Agony”, que representa, na letra constrangedora e nos excessos da interpretação de Chris Pine e Billy Magnussen, a nova face da Disney, que bancou o projeto, em sua missão de transformar os príncipes em seres menos encantados, fazendo companhia (mais tematicamente e menos em qualidade) a produções como Frozen, Malévola e Valente.

A questão é que nem mesmo essas canções, aliadas à técnica digna de prêmios e às aparições especiais de Tracey Ullman e Johnny Depp, fazem com que Caminhos da Floresta escape de ser esquecível, em 125 minutos de uma cantoria pouco inspirada e um texto extremamente confuso, que faz par com a mise-en-scène inexplicável de seu diretor, que torna indecifrável a mais simples composição cênica. Talvez com um cineasta mais eficiente em estabelecer a ação, o longa pudesse se tornar um musical admirável. Nas mãos de Marshall, porém, o longa acaba naufragando em suas ambições, e em suas tentativas de ser o conto infantil definitivo, inserindo subtramas desnecessárias e desenvolvendo mal uma história que era promissora em suas intenções iniciais.

Into the Woods, Rob Marshall, 2014 

2 comments:

João Luiz said...

na teoria é uma boa
na pratica parece uma comedia satira que sem nenhma vergonha atira pra todos os lados e não acerta em nada

um lixo

Raquel Raposo said...

Chatíssimo. uu